quarta-feira, 13 de julho de 2011

O SEGREDO

Usando o controle remoto, Sandro começou a avançar a fita de seu vídeo. O que ele procurava ocorrera há vários anos. Tentava achar uma cena gravada em seu antigo K7. Com o rosto contraído e olhos arregalados, Sandro se detém diante de uma imagem. Ele não acreditava no que estava  vendo. Num salto de dez anos, a antiga cena se tornara viva, como se  estivesse acontecendo naquele momento. Será que depois de tanto tempo  seria capaz de entender o que acontecera e a absolveria pelo erro? Mas agora, vendo-a através da tela, era iminente a verdade do fato, não havia como duvidar. Sandro não conseguia sequer absolver a si mesmo. Continuava sendo um idiota. Diante da tela do televisor, revendo aquele vídeo, continuava duvidando da veracidade dos acontecimentos. Desabotoando a camisa, sentiu uma profunda sensação de desgosto invadi-lo novamente. Era um fracassado. Durante todos aqueles anos, sua vida não avançou em nada. Ele continuava prisioneiro daquela trágica noite. Já perdera as contas das vezes que olhara para aquelas cenas e nunca ficara satisfeito com o que estava registrado. Ele teimava em acreditar que havia algo além daquelas imagens. Talvez ele estivesse se detendo na sequência errada, a rotina estava sendo a sua maior inimiga. Quando essa perspectiva atravessou seus pensamentos, sentiu uma mistura,  de empolgação e apreensão. Sabia quantas vezes havia apertado o botão do controle do vídeo sempre na mesma cena como se teimasse em não querer ver a realidade. Provavelmente estava preocupado com as possíveis conseqüências em relação ao que ia descobrir. Já se passara tanto tempo, que  se acostumara a carregar o pesado fardo  daquela dúvida. Enquanto analisava o que deveria fazer, Sandro desligou o vídeo, numa atitude de medo e respeito no que estava prestes a ser revelado. Era como se  estivesse delicadamente cuidando para que tudo se mantivesse em seus devidos lugares. Não havia mais motivos para desvendar aquele segredo. Nada mais poderia ser feito a respeito daquele fato. Ele sabia da existência de barreiras na vida, que não valem a pena ser atravessadas. Sandro sentiu uma enorme sensação de alívio por dentro. Estava tomando a decisão correta. Evitando um caos, um incêndio de grandes proporções, uma catástrofe. Balançou a cabeça concordando com seus pensamentos. Por algum tempo ele se manteve imóvel. Finalmente conseguiu levantar-se da cadeira e andar na direção da janela. Endireitando o corpo, como se livrasse daquele antigo fardo, Sandro não era mais o mesmo homem. Lançou seu corpo no espaço, voando como um pássaro levou com ele um segredo não revelado.




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