terça-feira, 24 de abril de 2012


RENASCIMENTO

Hoje acordei com uma sensação de vazio. Como se em meu peito houvesse um enorme buraco. Uma vontade de ficar parado, estacionado no tempo esperando algo que não sei o que é. Acordei com a cabeça longe, um tão longe que não consigo pensar. Estou em letargia,  marasmo, sem ânimo. Não consigo despertar nem despertar em mim nenhum sentimento. Li os jornais, e nenhuma notícia  tocou-me. Nem os mais terríveis, e escabrosos acontecimentos, causaram-me  abalo. Cumpri todo o ritual diário: escovar os dentes, beber café, ler os jornais tudo automaticamente, como se houvesse um botão tipo liga desliga.

Fui até a janela, olhei o dia e fiquei parado como se não houvesse paisagem. Tudo me pareceu igual. Descolori a vida. Não existe para mim, cores nesse dia de outono. Cinza é o que vejo. Apenas algumas variações para mais ou menos escuro. Hoje nada mais é do que a repetição do ontem. Não tenho perspectivas para o amanhã. Não estou conseguindo me fixar em nada. Um torpor, típico de quem esteve em estado febril, me faz indolente. Não se trata de preguiça ou de cansaço, indolência é o estado em que me encontro. Perdi a noção do dia e das horas. Olho para o relógio na parede da sala e vejo que os ponteiros se movem, mas não consigo distinguir as horas.

Deixo-me cair no sofá e fico a contemplar o teto branco da sala. Nada se move. Nenhum som é captado por mim. Estou imerso no vazio. Sou uma nave espacial mergulhada no infinito, vagando entre as galáxias no silêncio do universo.

Seria “isso” a sensação da verdadeira paz? Será  esse é o sentimento que anuncia a morte? Meus olhos estão pesados e minhas pálpebras se fecham. Há uma estranha leveza no ar. Não sinto angústia, saudade ou qualquer outro sentimento, apenas uma vontade imensa de não retornar. Estou me deixando levar para um infinito tranqüilo e muito longe das realidades que fazem o mundo.

Estou me sentindo leve e absolutamente distante do corpo. Agora é só vazio. Uma estranha e agradável sensação de não ser, não pertencer, não existir. Dissolvo-me no ar como fumaça. Algo mágico se apoderou da matéria. Creio que minha alma saiu para conhecer outros lugares. Outros universos.

Não estou existindo nessa galáxia e nem nesse tempo. Não há o concreto, apenas o imponderável. Não existe mais o vazio nem a inércia. A letargia deu lugar a uma nova energia, que deverá se condensar para se reorganizar e formar  um novo eu.

Sairei das cinzas reencarnando em um novo formato de vida. Renascimento!



Edison Borba

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