RENASCIMENTO
Hoje
acordei com uma sensação de vazio. Como se em meu peito houvesse um enorme
buraco. Uma vontade de ficar parado, estacionado no tempo esperando algo que
não sei o que é. Acordei com a cabeça longe, um tão longe que não consigo
pensar. Estou em letargia, marasmo, sem
ânimo. Não consigo despertar nem despertar em mim nenhum sentimento. Li os
jornais, e nenhuma notícia tocou-me. Nem
os mais terríveis, e escabrosos acontecimentos, causaram-me abalo. Cumpri todo o ritual diário: escovar os
dentes, beber café, ler os jornais tudo automaticamente, como se houvesse um
botão tipo liga desliga.
Fui
até a janela, olhei o dia e fiquei parado como se não houvesse paisagem. Tudo
me pareceu igual. Descolori a vida. Não existe para mim, cores nesse dia de
outono. Cinza é o que vejo. Apenas algumas variações para mais ou menos escuro.
Hoje nada mais é do que a repetição do ontem. Não tenho perspectivas para o
amanhã. Não estou conseguindo me fixar em nada. Um torpor, típico de quem
esteve em estado febril, me faz indolente. Não se trata de preguiça ou de
cansaço, indolência é o estado em que me encontro. Perdi a noção do dia e das
horas. Olho para o relógio na parede da sala e vejo que os ponteiros se movem,
mas não consigo distinguir as horas.
Deixo-me
cair no sofá e fico a contemplar o teto branco da sala. Nada se move. Nenhum
som é captado por mim. Estou imerso no vazio. Sou uma nave espacial mergulhada
no infinito, vagando entre as galáxias no silêncio do universo.
Seria
“isso” a sensação da verdadeira paz? Será esse é o sentimento que anuncia a morte? Meus
olhos estão pesados e minhas pálpebras se fecham. Há uma estranha leveza no ar.
Não sinto angústia, saudade ou qualquer outro sentimento, apenas uma vontade
imensa de não retornar. Estou me deixando levar para um infinito tranqüilo e
muito longe das realidades que fazem o mundo.
Estou
me sentindo leve e absolutamente distante do corpo. Agora é só vazio. Uma
estranha e agradável sensação de não ser, não pertencer, não existir. Dissolvo-me
no ar como fumaça. Algo mágico se apoderou da matéria. Creio que minha alma
saiu para conhecer outros lugares. Outros universos.
Não
estou existindo nessa galáxia e nem nesse tempo. Não há o concreto, apenas o
imponderável. Não existe mais o vazio nem a inércia. A letargia deu lugar a uma
nova energia, que deverá se condensar para se reorganizar e formar um novo eu.
Sairei
das cinzas reencarnando em um novo formato de vida. Renascimento!
Edison
Borba
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