terça-feira, 3 de abril de 2012

TENTAÇÃO

Dizem os estudiosos que a tentação está sempre nos vigiando. Até os mais religiosos, não estão livres de serem  testados em sua fé. São situações que colocam à prova crenças, valores, ética e principalmente a nossa resistência psicológica.
Existe uma letra, de música cantada pelo “rei R.C.” que afirma que tudo que gostamos, faz mal, é proibido ou engorda. E são essas “coisas”, que surgem no nosso dia-a-dia, colocando à prova a nossa força de vontade, resistência, postura, ética, saúde entre outras questões.
A história de Leonel, é um desses casos, em que a tentação aparece, colocando em risco, as crenças e valores de um homem, que neste caso, é extremamente religioso.
Leiam com atenção e tente não cair em tentação, como o personagem deste caso.
Leonel nasceu em um núcleo religioso. Seu pai, pastor, conduzia seu rebanho rigidamente, obedecendo aos padrões estabelecidos pelo livro sagrado. Leituras e cantorias religiosas faziam parte da vida daquela família. Viviam abençoados pelo Espírito Santo, que algumas vezes se manifestava entre eles, profetizando mensagens e realizando milagres. Assim era o grupo familiar de Leonel, que, entre os seus irmãos, sempre se mostrou o mais obediente e com maiores dotes religiosos.
Possuindo os atributos exigidos pela sua congregação,  Leonel foi  escolhido para ser o substituto direto de seu pai. Desde a sua infância, foram horas e horas de rigorosos estudos bíblicos e penitências. Diariamente o menino lia e analisava trechos bíblicos.
Manifestações e previsões de obreiros o apontavam como o futuro  grande líder. Leonel cresceu, transformando-se num belo homem. Desejado e amado pelas mulheres,  sempre manteve uma conduta digna. Puro e casto ele se manteve até a idade de 34 anos.
Porém, para surpresa de Leonel, um dia, após o culto e ao voltar para casa, ele sentiu  algo estranho. Durante a sua “palavra”, ele notou entre os presentes, sentado no meio da multidão,  um varão que olhava para ele de forma insistente. Um tipo de olhar que marcou Leonel profundamente. Daquele dia em diante, em todos os cultos, lá estava ele. Quando Leonel fazia uso da palavra, ou invocava a presença do Espírito Santo, o seu pensamento se confundia com o olhar daquele homem. O jovem líder  procurou em  salmos e versículos indicações que pudessem afastá-lo  daquela tentação.
Mas, quanto mais ele orava, mais crescia dentro dele a presença daquele homem. Será que Deus o havia enviado para testar  sua fé, pensava Leonel.
Uma noite, após um culto onde diversas previsões foram realizadas com a manifestação de forças superiores, Leonel, que tinha sido um dos grandes pregadores, ao sair da igreja, viu o seu “tentador”. Ele o aguardava do outro da rua. Camisa social azul, calça escura e um lindo sorriso. Leonel sentiu seu corpo tremer, como se estivesse recebendo uma manifestação divina.
Atravessou a rua e sem dizer palavra seguiu lentamente para junto do varão.
Os dois caminharam lado a lado, vagarosa e silenciosamente mergulhados no escuro da noite.
Leonel acordou numa cama de motel da avenida Brasil.  No ar um cheiro de amor. Ao seu lado apenas a Bíblia, e em seu coração, felicidade. Jamais tinha sentido em toda a  vida aquela sensação de prazer.
Dias depois, lendo o jornal, Leonel encontrou a foto daquele homem. Ele havia morrido numa troca de tiros com a polícia, levando  o segredo  e a sensação de uma noite repleta de magia e amor, que jamais iria se repetir.
                                                                Edison Borba
                        Do livro – DOIS EM CRISE – Editora All Print - SP / 2010

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