terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A VERGONHA DOS OUTROS

Há anos converso com minha analista, sobre um problema do qual não consigo me desvencilhar: a vergonha dos outros.
Frequentemente, sou atacado por um sentimento de vergonha, de algo que eu não cometi. É uma sensação ruim, uma indisposição que me deixa com problemas estomacais. Meu fígado reclama, meus rins protestam, meu coração acelera, causando-me um desequilíbrio fisiológico, difícil de controlar. Todo esse desarranjo orgânico está diretamente ligado às “coisas” que eu não fiz e não faço.
Estou me tornando uma pessoa solitária e incapaz de acessar os meios de comunicação. Está difícil ler jornais e revistas, ouvir noticiários no rádio e também os transmitidos pela televisão. É uma questão de  sobrevivência.
Todas as vezes que sou obrigado a tomar conhecimento de  fatos tristes, sou acometido pelo sentimento de vergonha dos outros.
Quando os noticiários abordam o tema saúde. Quando  jornalistas entrevistam pessoas doentes, cidadãos nas filas hospitalares,  esperando há meses, por uma consulta médica, meu rosto fica corado e quase morro de vergonha.
Minha analista aconselhou-me uma viagem para a Europa, fazer uma imersão em algum SPA, ou até frequentar grupos de apoio, mas nada resolverá o meu problema, pois o foco está fora do meu corpo, à vergonha não é minha e sim dos outros.
Como fazer, para “fazer” os senhores da política, sentirem vergonha pelo desperdício do dinheiro público?
Como não sentir vergonha, ao tomar conhecimento da precariedade no ensino brasileiro?
Minha crise alérgica aumenta todas as vezes que fico envergonhado com advogados defendendo os envolvidos na quadrilha do mensalão.
Já estive quase em CTI, por intoxicação, no mês das eleições. Tive que ser medicado, cheguei  usar remédios controlados (os tarja preta), após assistir a um programa eleitoral. Aquele que é chamado de espaço gratuito. Foi uma dose muito forte de falta de vergonha dos outros, que eu quase explodi.
Tenho  aumento de pressão, ao ver a cara de pau, de alguns cidadãos formadores de opinião, pessoas que ocupam  espaços na mídia,  negarem-se a fazer o teste do bafômetro. Que vergonha! Que vergonha! Que vergonha! Colocar à vida dos outros em perigo e ainda não aceitarem fazer o teste que indica o teor de álcool no corpo é simplesmente vergonhoso.
Creio que estou sendo intoxicado pelo excesso de “desavergonhice”  que está assolando diversos segmentos da sociedade brasileira.
Busco refúgio no consultório da minha analista, que sob a proteção Freudiana, me fornece condições de continuar sobrevivendo com a falta de vergonha, dos outros.
Edison Borba

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