quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

IMAGENS PERDIDAS

Durante um espetáculo em que não houve restrições quanto ao uso de material fotográfico, fiquei impressionado com o número de pessoas preocupadas em registrar em suas câmeras, a apresentação dos artistas.
Próxima à mesa que ocupava, uma jovem passou noventa por cento do tempo de show, com sua máquina, captando imagens em sua pequena máquina.
Não sendo ela uma jornalista ou fotógrafa profissional, me surgiu uma dúvida: o que faria com aqueles registros?
Irá colocá-los em sua página da internet para que seus seguidores saibam que ela esteve naquela casa de espetáculos?
As fotos irão comprovar a sua presença, apenas a presença física. Ela perdeu momentos emocionantes. Deixou de ouvir a linda voz da cantora, o solo de violão, o encontro do convidado com todos os músicos.
Ela não conseguiu colocar em sua máquina, as emoções.
A febre de imagens que assola o mundo é assustadora. Imagens, imagens e mais imagens. Apenas imagens sem vida. Dezenas, centenas e até milhares de registros captados e lançados em páginas e páginas de blogs e face-books, para serem esquecidas.
Efêmeros registros de nada servem. Algumas fazem “sucesso” ou causam  impacto ou até mesmo escândalo, e nada mais.
Quantos momentos são perdidos por nossos olhos. Quantas sensações deixam de ser captadas por nossas almas. Quantas emoções perdidas.
Os olhos são o registro da alma. Uma vez captado, eternizado ficará. Nossos cérebros são o grande arquivo, que estão ficando vazios.
Arquivos de fotos abandonados em computadores. Não podem ser levados no bolso e na bolsa. As fotos não podem ser  acariciadas e até beijadas.
Tenho amigos que se orgulham de ter centenas de fotos em seus arquivos. Fica uma pergunta: para que servem?
Eu também tenho fotos em meu arquivo eletrônico. As mais significativas, passo para o papel e as mais queridas estão exibidas em quadros (porta – retratos) espalhados por meu apartamento. Às vezes troco. Mudo de posição ou até mesmo de foto. Porém, elas estão ali perto de meus olhos e de meu coração. Outras, arquivadas em meu cérebro. Às vezes posso revivê-las em minha alma. Quando a saudade bate à porta do coração, deixo que elas escorreguem para que possa sentir as emoções do dia em que foram registradas.
Estou me lembrando da moça que estava no show, o que ela terá feito com tantos registros?
Será que ela guarda alguma emoção daquela noite?
Qual a música que ela mais gostou?
Em que momento o show foi mais romântico? Será que em seu coração existe algum registro ou tudo já está abandonado em mais uma página da internet?
Edison Borba

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