sábado, 2 de novembro de 2013

DOAÇÃO DE ÓRGÃOS E O DIA DE FINADOS

            Nossos pais, nossos avós, nossos bisavós, nossos tataravós  nossos antepassados. Todos nós somos provenientes de uma relação de seres, que passaram suas bases genéticas adiante, perpetuando as características da nossa espécie.
Levando-se em conta que os genes são constituídos de moléculas bioquímicas, que passam de geração em geração, até encontrar condições favoráveis para se manifestarem, podemos imaginar e até sonhar, que provavelmente em nosso organismo exista uma porção bioquímica que existiu no organismo de algum antepassado. Essa pode até ser uma ideia enlouquecida, imaginarmos que de alguma forma ainda está viva alguma porção química que conviveu no organismo do meu bisavô ou da minha tataravó.
Reflexão interessante e fascinante quando “comemoramos” o dia de finados. Permite um mergulho no inexplicável mundo da morte,  talvez seja uma forma sonhadora de mantermos vivos, aqueles que amávamos e,  que deixaram de existir, faleceram.
O fenômeno da morte ainda é um tabu para a maioria das sociedades. O medo de morrer e de perder pessoas amadas nos  assustada.  Vivemos procurando formas de manter vivos amigos queridos e familiares. Retratos, roupas, cartas e tantos outros “amuletos”, nos quais nos apegamos para ter para o sempre o bem que se foi. Cadernos de recordações, diários são também usados para mantermos vivos os nossos finados. Uma roupa com o perfume, um som, uma melodia, um sabor são elementos que os materializam por segundos.
Buscamos comunicações através de “paranormais” e “médiuns” que através de “poderes” que não sabemos explicar, fazem comunicações com o mundo dos mortos, trazendo recados e dessa forma nos confortando.
Mas tudo isso, está sempre envolto numa atmosfera de desconfiança. Há sempre uma dúvida quanto a veracidade da mensagem recebida. Nosso egoísta desejo de manter viva a presença de quem amamos  leva-nos a buscar as mais inacreditáveis fórmulas e formas de contato.
 Esse desejo pode e deve ser um incentivo para a doação de órgãos. Imaginemos o coração de um ente querido, continuar pulsando no peito de uma pessoa. Gerando vida e alegria para outra família. Doar órgãos é perpetuar a vida de nossos entes queridos. É uma atitude de amor em mão dupla: para quem deixou de viver e para quem poderá continuar a viver.
 Por mais avançada que sejam as novas tecnologias, ainda não conseguiu resolver a dor da perda para a morte. Como substituir filhos, pais, amigos e amores. Mesmo quando se mergulha no mundo da fantasia e os clones aparecem como substitutos, sabemos que eles não poderão substituir a matriz.
 Enquanto existir quem se lembra de alguém, esse alguém se manterá vivo.  Através  da doação de órgãos podemos sonhar com a imortalidade. Doar é uma forma de expressarmos nosso amor a pessoa a quem amamos.
 Seja como for, a saudade continuará, esse sentimento que nos amargura e nos faz sofrer é também a forma de amor  responsável por fazer renascer e manter vivo quem jamais morrerá em nosso pensamento.
Vinicius de Morais,  deixou-nos alguns versos que traduzem muito bem esse grande mistério da vida – a morte.
Tem dias que eu fico pensando na vida
E sinceramente não vejo saída
Como é  por exemplo que dá pra entender
A gente mal nasce e começa a morrer
Depois da chegada vem sempre a partida
Porque não há nada sem separação
Sei lá, sei lá
A vida é uma grande ilusão
Sei lá, Sei lá
Edison Borba

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