Acordo cedo e após o banho matinal,
enquanto tomo o café, antes de sair para o trabalho, ouço os noticiários. É um
hábito que aprendi com meu pai. Os tempos mudaram, e hoje, o antigo rádio foi
substituído por um televisor, tela plana, bem moderna, com imagem digital.
Apesar de ter melhorado o meu padrão de vida, as notícias caminharam
“invertidamente”. O simpático jornalista, sorridente e aparentando felicidade,
noticia a vitória do meu time, a moça do tempo avisa que vai chover e os demais
jornalistas se alternam entre várias notícias.
Educação: apesar do final da greve dos
professores, algumas escolas continuam sem aulas. Motivo: guerra entre
quadrilhas de traficantes a já conhecida “guerra urbana”. Imediatamente penso se haverá
reposição das aulas perdidas, todas as vezes que houver “fogo cruzado” entre
bandidos e policiais e entre quadrilhas rivais?
As notícias vão se misturando e o
apresentador do jornal continua mantendo a sua simpatia mesmo quando o assunto
é a morte de um homem paraplégico, morto por bala perdida no confronto entre policiais
e traficantes.
A chuva continua e a repórter de campo
avisa que a avenida Presidente Vargas,
está alagada pela água da chuva e pelo rompimento de um cano de águas. Há
congestionamento no local.
A seguir uma bombástica nota: mulher recebe a cabeça do marido, colocada dentro de
uma mochila. A polícia tenta achar o corpo e localizar os assassinos.
Voltando ao futebol, estamos na rodada
fina do campeonato brasileiro. Alguns times estão com possibilidades de rebaixamento
(incluindo o meu) e os botos da baía de Guanabara devem desaparecer do meio
ambiente até o ano de 2014. Essa trágica notícia ecológica fica perdida entre
outras tantas tragédias.
Acidente na via expressa causa
engarrafamento. São sete horas e trinta minutos e já estou de saída, mas continuo atento às notícias, na esperança de
ouvir algo mais alentador para iniciar o meu dia. Entram os comerciais e vejo
um lindo automóvel, sendo vendido por um peço acima do meu salário. Sonho poder
algum dia, dirigir um possante carro amarelo, quatro portas e com ar condicionado.
Atenção para a notícia final: bala
perdida mata menino de oito anos. Kaio da Silva Costa, foi ferido durante troca de tiros entre
bandidos e policiais. Kaio, era jogador de futsal do Bangu e conhecido como
Kaio Cabeludinho. Durante o tiroteio, a sua avó, um policial e uma mulher também
foram atingidos.
Com lágrimas nos olhos, desliguei o
televisor e sai para trabalhar.
Será que é assim que tem que ser?
O que está acontecendo no meu país?
Será que eu estou fazendo a parte que me
cabe?
Como estão os pais do menino Kaio?
Vivo na esperança de um dia poder ouvir
notícias melhores. Informações que alegrem meu coração e que não sejam apenas
noticiadas como “coisas da vida”.
Edison Borba
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