terça-feira, 29 de janeiro de 2019

PROFECIA


(por) Edison Borba


Vagando pelo sertão um beato alertava que um dia o sertão ia num mar virar. E assim, se propagou a notícia pelo mundo de tanto o beato falar. Mulheres apavoradas acederam velas, fizeram até procissão, rezaram terços e rosários ajoelhadas no chão. Os homens mais recatados, fingiam não acreditar nessa história esquisita do sertão virar um mar. Mas por detrás do machismo, também rezavam para os santos para suas vidas salvar.
Mas os “home” de gravata, de paletó e fala mansa, que tem os poder de governar se encarregaram de um dia fazer com que a profecia, se tornasse verdadeira. Só mudaram um “tiquinho” da história do beato, trocaram as águas do mar, por outra coisa nojenta, um barro de cor vermelha e nele puseram veneno, e depois de “ajuntá” uma quantidade boa, fizeram ela escorrer pelos campos bem verdinhos, matando tudo tudinho lá “pras” bandas de Brumadinho.
As árvores cheinhas de frutos, os boizinhos que pastavam e as vacas leiteiras que seus bezerrinhos criavam, as aves, os pintinhos, e até o cachorrinho de nome “Sultão” que ladrava anunciando seu dono, quando da labuta chegava, foram todos dizimados pela onda de uma lama derramada da usina construída pelos “home” que estudaram e são letrados.
E lá se foram as vidas de homens e mulheres que trabalhavam pelo pão de cada dia. Uma tragédia terrível, que aconteceu esses dias nas Minas Gerais. As Minas, dos inconfidentes que lutaram pela gente, pela nossa liberdade. Minas Gerais de Inhotim, maravilha de lugar, que hoje chora a tristeza de ver ameaçada toda a sua beleza.
Mariana e Brumadinho, choramos por suas perdas, mas sabemos que haverá outras tragédias. Infelizmente passado o tempo de luto, continuaremos com as vidas nas mãos dos poderosos. Homens e mulheres bonitos, e diplomados pela gente, que eles concedemos, os nossos votos nas urnas. Mas isso é outra história que infelizmente não será de glória, talvez mais algumas tragédias que acontecerão não duvido, pois eles continuam vivos com cofres cheios de grana, se deliciando com vinhos na Paris iluminada, numa farra sem igual, envergonhando até o belo mundo animal.

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