Ainda lembro o dia que meu primo Zeca, chegou à nossa casa e nos apresentou a palavra inconstitucionalissimamente. Escrita numa folha de caderno, ela causou espanto na garotada. Eu, meus irmãos e primos ficamos encantados diante daquela enorme quantidade de letras. Todos queriam saber o tamanho da palavra e ninguém se preocupou em saber o seu significado. Mais tarde, estudando no Colégio Dois de Dezembro, no curso ginasial encantei-me com a palavra anacoluto. Era aula de Língua Portuguesa e a professora, a apaixonante, Dona Corina. Linda! Todos na classe eram “vidrados” naquela mulher elegante, de voz suave e que sabia como ninguém levar seus alunos pelos caminhos da leitura. Também não me preocupei com o significado da palavra. O que eu mais gostei foi da sonoridade: anacoluto! Que beleza! Passei semanas com o ela na cabeça. Depois vieram outras, como: anáfora, metamorfose, hipérbole entre outras palavras que me inebriavam por suas sonoridades e me faziam frequentar os livros nas bibliotecas, caçando-as uma a uma, escrevendo-as em um caderno para depois ler sozinho em minha casa. Creio que eu fui seduzido pelo mundo gramatical através dos sons das palavras e ao busca-las nos livros, desenvolvi o hábito e o prazer de ler e de ouvir. Gosto de ler em voz alta para sentir os sons e amo ouvir uma voz lendo ou contando uma história, pelo imenso prazer musical que as palavras provocam em minha vida.
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