domingo, 18 de outubro de 2015

A PROFESSORA E SEU ÓCULOS

  • Existem amizades que começam de forma nada convencional. Foi assim que nasceu uma linda relação da qual eu faço parte e que já ultrapassou a barreira dos quarenta anos.
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  • Tudo começou no Colégio Educo, situado no bairro do Méier, que no início dos anos setenta, contratou jovens professores para o seu quadro Docente. A maioria, recém formados e cheios de vontade de ensinar, encontraram-se naquele colégio, para iniciar suas carreiras no magistério.
  • Foi neste ambiente, no recreio, que a amizade começou, e se mantém até hoje. Creio que este encontro já estava programado, coisas de vidas passadas e que não há como explicar.
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  • Ela, usando um elegante  ray-ban legítimo, mantinha uma certa “distância” na forma de tratar com os demais colegas. Talvez, por timidez ou porque essa forma de agir seja comum entre os professores da área de Literatura e Língua Portuguesa. São eles que cuidam da “norma culta”, dos falares e dizeres, das concordâncias e discordâncias das nossas conversas. São os guardiões da “Língua de Camões”, a última “flor do Lácio”, como afirmou Olavo Bilac em um dos seus sonetos.
  • Eu, professor de Ciências, usando jaleco branco e carregando vários materiais para experimentos em laboratório. Um jovem magricela, barbudo fazendo o tipo “rebelde sem causa”.
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  • Ela, com poemas, sonetos e histórias, lidas e contadas pelas páginas de coloridos livros. 
  • Eu, com plantas, pedras, animais, lâminas e lamínulas para usar no microscópio.
  • Duas pessoas antagônicas! Diferentes! Mas que comungavam os mesmos sonhos.
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  • O quadro que pintei, acima, talvez tenha cores exageradas. É possível que o nosso encontro, não tenha sido bem assim. Talvez a jovem professora não fosse como a vi pela primeira vez. Eu a "senti"com olhos de menino professor, que se enamora pela companheira de profissão.
  • Aos poucos fomos nos aproximando e conseguindo unir nossos interesses pedagógicos e particulares. Em pouco tempo, formamos uma dupla, e ela não usava mais o  óculos, ou quando usava era para se proteger do sol.
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  • Eu passei a usufruir das caronas que ela me oferecia em seu lindo fusca cor de caramelo. E foram muitas confidências, segredos, passeios, teatros, cinemas e contatos com mais amigos que vieram se juntar a nós. Entre eles, Maria Lúcia, professora, também da área de Camões e Bilac, mas que Deus,  chamou para o céu. Ela, ainda muito jovem, deixou seus amigos e transformou-se numa linda estrela da constelação da amizade. Ainda a mantemos em nosso grupo. Amizade verdadeira é eterna!
  • O tempo foi passando, o calendário mudando suas folhas e, dia a dia, mês a mês, ano a ano, a amizade se consolidando. Casamento, filhos, vida que segue. Problemas, alegrias, festas, tragédias, perdas, conquistas, risos, almoços, crianças – vida que se renova.
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  • Décadas se seguiram e hoje, a moça do óculos ray-ban e eu, já perdemos às contas de quanto tempo nos conhecemos. Parece que foi ontem, que nos vimos pela primeira vez. Talvez o nosso ontem seja o hoje, e quando nos encontramos,  o tempo não foi marcado e,   a nossa conversa segue naturalmente, nunca sendo interrompida.
  • Acaso? Destino? Que motivo fez com que nossos caminhos se cruzassem? Não sabemos!
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  • O que vale é o amor, a amizade, o respeito, os abraços, os encontros e as nossas vidas que permanecem unidas, mesmo quando estamos distantes.
  • Grande abraço para Sheila Assumpção Cavalcante, a moça do óculos – minha amiga!
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  • Edison Borba

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