A
mesa que outrora fora coberta por lindas toalhas de renda branca,
acumula poeira na sala da casa abandonada. Cortinas desbotadas tentam
impedir a entrada da luz do sol. Os vidros embaçados das janelas
colaboram nessa árdua tarefa de não deixar que a vida entre
naquele ambiente.
Tapetes
corroídos ainda guardam a imponência dos tempos em que sapatos
elegantes deixavam marcas na sua maciez. Sofás de veludo manchados
de bebidas derramadas no auge das festas, continuam a manter a
sofisticação do passado.
Em
todos os cantos pode-se perceber melancolia e tristeza. Apenas um
relógio teima em continuar marcando horas que se perdem no vazio
daquele casarão.
Quantas
coisas aconteceram no amplo salão de jantar e outras tantas na
biblioteca e nos quartos. Casais enamorados fizeram juras de amor
eterno, na eternidade de uma noite. Taças de cristal tilintavam
anunciando intermináveis brindes. Risos, gargalhadas, música,
mistura de vozes e bebidas fizeram daquela residência um campo de
concentração às avessas.
Nas
noites de orgia, era possível sentir os perfumes femininos
misturando-se ao cheiro de tabaco dos cigarros e cachimbos dos
cavalheiros nem sempre tão cavalheiros. Alguns estavam mais para
cavalariços, o que muito agradava as senhoras, que após algumas
bebidas perdiam o pudor e deixavam brotar sentimentos selvagens.
Coisas
passadas, passadas naquele local, se fazem presentes na cabeça
daquele homem, trazendo para o presente àquilo que é passado.
Ele
não sabe o que esperar do futuro, ainda está preso a todas aquelas
“coisas” materiais e sensoriais que habitam seus sentimentos. Tem
horror em pensar no seu destino, quando se desfizer daquele incrível
mundo.
Seu
corpo treme quando pensa que todos se foram. Está com medo e sozinho
naquela sala. Cheio de horror; anda de um lado, para o outro. Sente o
suor escorrendo pelo seu rosto. Olha para todos os objetos,
preferindo ser um cego para não ver a morte que se apoderou de tudo
que outrora fora tão vivo.
Pensa
em cometer um assassinato.
Matar
aquelas coisas passadas, romper laços, arrancar pela raiz, deixar
sangrar. Não
quer mais ferir seus olhos. Não
podendo mais adiar, com
um gesto rápido, riscou um fósforo. Em
alguns segundos tudo virou cinzas!
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