As luzes se apagam, fecham-se as cortinas e o espetáculo termina. A
plateia aplaude freneticamente, e o ator vem à cena para agradecer o carinho do
público, José Wilker encerrou sua última apresentação no teatro
Terra, com a peça “A História de um Homem”.
Sua carreira foi brilhante e aplausos muitos, sempre que
as cortinas fechavam-se anunciando a última cena de “Antígona”, “O Arquiteto e o Imperador
da Assíria”, “Hoje é dia de Rock” e ao lado de Teresa
Raquel, o espetáculo teatral “A Mãe”, o público o aplaudia
freneticamente.
Estas e muitas outras histórias, Wilker
viveu nos palcos, dando vida a personagens de vários tipos, mas
com tanta realidade que ele se anulava deixando que a interpretação fosse além de
sua própria vida.
No cinema, até hoje o Lorde Cigano, vive na imaginação dos
espectadores, ao lado do Homem da Capa Preta. Das telonas para as telinhas das
televisões, o talento era o mesmo. Roque Santeiro, Gabriela e tantas outras
novelas marcaram sua presença nos lares do Brasil e de todo o mundo.
Aos poucos o cenário artístico brasileiro
vem empobrecendo de grandes astros. Nomes importantes estão sendo apagados
dos letreiros e a ribalta se entristece.
Sérgio Britto, Paulo Goulart e agora José Wilker são três talentosos
atores, que não se limitaram a representar, eles além do palco, foram cidadãos capazes de interferir
na vida do país através da arte. Homens talentosos e inteligentes, cada um com um
estilo especial de representar, caminharam por diversos palcos do teatro,
cinema e televisão. Suas atuações iam além dos personagens,
ganhavam vida esse tornavam gente como a gente.
Abençoados pelos deuses da dramaturgia, eles transformavam
seus papeis em histórias tão verdadeiras que transformavam o
povo em coadjuvantes das histórias.
Outros grandes atores também seguiram para outra dimensão, como Paulo
Gracindo, Raul Cortez e Paulo Autran deixando nossos palcos vazios e sem
substituição. Com a morte de Sergio Britto, Paulo Goulart e José Wilker a lacuna torna-se muito grande. Estamos
vivendo uma crise de talentos, de inteligências, de trabalhadores teatrais que
não sejam apenas um rosto bonito e um corpo malhado, mas cidadãos, que através
da arte de representar, “representem” seu povo. Estamos carentes de vozes que
falem pelos brasileiros. Precisamos que a arte vá além de simples
entretenimento e seja também um veículo da manifestação política e social das
necessidades e vontades de um país.
Hoje, com a morte de José Wilker, o Brasil fica um pouco
mais pobre. Cala-se um homem ator, que emprestou sua voz, seu corpo e sua
inteligência, para divertir, informar e educar. Também foi através das suas
interpretações que nos momentos complicados da política brasileira,
a população se fez ouvir.
Que os jovens “atores”, percebam que além das academias
também é necessário estudar, ler, acompanhar os acontecimentos do seu
país. Não basta sair bem na foto e ganhar um bom cachê, é preciso estar atento
ao que acontece ao seu redor e viver com “verdade” o seu papel na vida e no
teatro. Somente assim, estarão honrando a profissão que escolheram.
Para os grandes atores, a morte não encerra suas carreiras; suas atuações, falas, cenas
e atitudes como cidadãos, continuarão pela eternidade e ajudarão a contar a história da
humanidade.
Edison Borba
Nenhum comentário:
Postar um comentário