terça-feira, 22 de abril de 2014

SAL E PEDRA

Maldita hora, que  olhei para trás e vi uma mulher de sal.

Calei, fiz votos de silêncio, jurei nunca mais olhar o passado.

Resolvi caminhar sozinho, levando apenas a minha dor.

Sem pó, sem dó, sem pílulas, anestesiado pelo desencanto.

Sem deixar que percebam, não digo palavras, não digo verdades.

Mentir. Tornei-me mentiroso, mas minto verdades em que acredito.

Digo e repito para mim, verdadeiras mentiras, mentiras verdadeiras.

Escrevo, leio, repito, faço versos, invento histórias de verdade,

Que ficarão guardadas em livro exposto em vitrines iluminadas

Causando inveja nas verdades outras que não sendo mentiras

Não são tão verdadeiras quanto as minhas inverdades.

Como aranhas que pescam insetos em suas redes,

Prendo palavras em teias de papel, onde escrevo, em línguas outras,

Que não entendo,  que não fazem sentido, que não são sentidas.

São apenas para ser lidas, relidas, revistas e olhadas sem ser vistas.

O que deixei para trás no dia em que a mulher de sal, virou pedra.

Eu tornei-me um desconhecido, nem reconhecido por mim.

E se eu vier morrer  neste momento, estarei feliz assistindo o evento.

No funeral eu  irei,  flores vou colocar sobre o corpo do mentiroso

Que morreu e ainda vive, pelas mentiras, que o sustentam  mesmo que  inerte,

Uma carcaça vazia, sem carne  sem alma. Um homem que caiu em desgraça,

Perdeu a graça, virou objeto que nem os insetos irão reconhecer e querer,

Deixando-o sozinho apodrecendo em silêncio, amargando as mentiras,

De uma vida vazia, imoral misteriosa e escandalosa, chocante e errante,

Que nunca foi desvendada porque era somente mentira,

Como a mulher de sal que virou pedra e sumiu porque era miragem e nunca existiu.

Edison Borba

Nenhum comentário:

Postar um comentário