segunda-feira, 14 de abril de 2014

MULHERES DE AREIA

          Elas estão pelas praias do mundo, são momentâneas, nascem e desaparecem com a força dos ventos. Como as dunas,  mudam constantemente de local. Algumas podem ser vistas  nos desertos, surgindo como miragens, enganando os cameloeiros e suas caravanas. Nunca são encontradas próximo às cachoeiras e cascatas, suas existências são incompatíveis com este tipo de elemento da natureza.
No verão elas surgem em grupos por todas as praias. Podem ser vistas correndo, dançando e encantando homens bronzeados.
Não podemos confundir mulheres de areia com a esposa de Ló, que ao fugir de Sodoma, desobedeceu aos mensageiros de Deus, olhou para trás e virou uma estátua de sal.
As mulheres de sal são amargas, endurecidas como pedras, não costumam amar ninguém, seu sabor corrompe as relações. São opostas as mulheres de açúcar, meladas, muito doces que também acabam por melar seus amores, que as abandonam, quando começam a se sentir grudados, como melados em panela de barro.
As de areia não são desobedientes, porque não recebem ordens, logo se não as recebem não as desobedecem. Elas vivem ao sabor dos ventos, de praia em praia, de deserto em deserto, sempre brincando com brisas e ventanias.
Seus sabores são indefinidos,  nem salgadas e nem doces, e assim elas despertam o apetite de quem nunca poderá prová-las.
Possuem formas indefinidas e como a fumaça costumam criar, desenhar, esculpir silhuetas incríveis que duram apenas alguns segundos. Apesar de parecerem volúveis, as mulheres de areia, possuem coração, não se assemelham as mulheres de pedra, difíceis de conviver e não possuem um “cuore”. São incapazes de sentir algo por alguém, vivem  demonstrando como  suas mãos são impiedosas. Elas e as de areia estão sempre em lugares opostos.
As mulheres de areia sabem sorrir, iluminam os lugares por onde passam, elas se demoram pouco tempo, mas espalham o amor. Diferentes das mulheres de mármore, que de tão brancas, ninguém pode se aproximar delas, os raios de sol refletem impedindo que as olhemos e nas noites são frias, impossíveis de serem tocadas. As mulheres de mármore estão condenadas a viveram absolutamente só.
Mulheres de areia vivem no imaginário dos homens, que desejam sonhar com musas intocáveis e mutáveis. Desejam o que não podem conseguir nem tocar. Homens sonhadores e capazes de construir castelos onde nunca irão morar. Os apaixonados pela vida, e como Dom Quixote saem pelo mundo a brigar contra os moinhos de vento, que em seus delírios, ao girarem suas pás, desfazem as imagens de areia, que são mulheres voláteis, existindo apenas nos sonhos e devaneios dos que ainda são capazes a enlouquecer de amor.
Edison Borba
 

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