terça-feira, 16 de maio de 2017

CINZAS POÉTICAS


 
Cinzas da quarta – feira
Do carnaval que passou
Voltar à realidade

Olhar a própria imagem
Desnuda frente ao espelho.
Fantasias rasgadas, feita em pedaços, no chão.

Agora só os mistérios dos meus abismos, solidão.
Volto às trevas de uma neblina espessa
Do que restou dos meus sentidos.

Cantei, dancei por três dias.
Mostrando meu rosto sem medo, no meio da multidão.
Sem as máscaras sociais, enfrentei a agonia.

Sem esconder minha face, fingi ser só alegria.
Hoje sou defunto, sem túmulo, estou perdido e sem rumo
Sinto-me morto pra vida, estou ausente de mim.

Não consigo lastimar, sei apenas escutar,
Ruídos, murmúrios lamentos.
Sinto a tristeza, tomar conta de meu corpo.

Minha pele ressecada deixa claro minhas rugas
Fecho os olhos pra não me ver
Tranco os lábios pra não falar

Meus olhos deixam lágrimas, pelo meu rosto escorrer.
Nunca vivi um romance, dos que duram num sem fim.
Apenas o carnaval me permite um enredo

E consigo transformar pobre vida em poesia
Mas quando acaba a folia, sinto que estou sufocando.
Mergulho em profundo abismo de tóxicas realidades

Há desgosto em minha alma, um torpor não sei porquê
E quando sinto que a hora de morrer me é chegada,
Ouço ao longe, tamborins, tambores e mil cantares.

É carnaval novamente, tenho a vida prolongada.
Guardo minha mortalha, por mais um ano, talvez.
Minha desgraça adiada, ninguém terá que chorar.

Vou pra folia dançar, viver com intensidade,
Mostrar meu rosto lavado, branco pálido e tristonho.
Deixar que pensem eu usar, a máscara da impiedosa morte

Por dentro estou sorrindo, enganando vou vivendo.
Tenho três dias apenas para fingir liberdade
Mas quando a festa acabar,

Minhas cinzas vão jogar em algum terreno fértil
Onde irão crescer árvores, que darão frutas e flores
Para homenagear a quem nunca teve e terá amores.

            Edison Borba

 

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