sexta-feira, 3 de abril de 2015

SEXTA - FEIRA DA MINHA PAIXÃO

No nosso calendário, entre todos os dias marcados como santos feriados, o que mais me enternece é a sexta-feira da paixão. Fui criado numa família religiosa, e durante a semana santa minhas avós, uma portuguesa e outra mineira, vestiam-se em luto e jejuavam. Eu, meus irmãos e primos, não entendíamos o que se passava, mesmo com as explicações de nossas mães.
Na sexta-feira da paixão, íamos até a igreja para as atividades religiosas, que eram mais rígidas do que as que acontecem nos dias atuais. Nos altares os santos estavam cobertos com panos roxo. Algumas pessoas choravam, velas eram acesas, e em todos os rostos podíamos ver que havia tristeza. Para mim, e creio que para as outras crianças também, havia uma atmosfera um pouco assustadora.
Eu, particularmente, ficava fascinado com todo aquele aparato e emocionado quando mamãe, minhas tias e avós, se colocavam em oração, à noite em nossa casa.
O sábado de aleluia, era só alegria, acordávamos cedinho para ver se haviam pendurado, em algum poste, um boneco – o Judas.
No subúrbio onde minha família morava, era quase certo, que algum boneco estaria pronto para ser malhado ao meio dia.
O domingo de Páscoa, que não tinha o significado comercial da atualidade, sem ovos e coelhinhos, apenas uma bacalhoada no almoço (o peixe foi na refeição da sexta-feira) e à tarde o programa era assistir no cinema do bairro ao filme sobre a Paixão de Cristo. Eu ainda lembro que muitas pessoas choravam durante o filme. A criançada ficava em silêncio, eu sempre fiquei comovido e também sofria calado com o martírio de Cristo. Em minha cabeça de garoto ficava a dúvida: “por que ele não reagia?”
Durante muito tempo esta dúvida me acompanhou e a minha compaixão por Cristo passou por um período de zanga. Cheguei a não querer ir mais ao cinema, comecei a ter a minha própria paixão nas sextas-feiras santas. Ficava amuado, triste e irritado. Meus pais não entendiam o motivo da minha tristeza e inquietação.
Hoje, percebo que o meu comportamento, era uma forma de manifestação do meu amor pela figura de Jesus. Por admirá-lo e amá-lo, eu não conseguia vê-lo sofrer. Ele transformou-se em meu herói, no dia em que entendi os motivos que o levaram a sofrer tantos martírios. Somente um grande homem é capaz de doar-se e dar a sua própria vida para demonstrar amor pelos seus semelhantes.
Quando chega a sexta-feira da semana santa, eu ainda sou capaz de sentir em meu coração as dores da paixão por Cristo. É para mim o dia mais sagrado do calendário, porque é neste momento que temos a oportunidade de experimentar o maior amor do mundo.
Sexta-feira da minha paixão, pelo Mestre dos Mestres, Jesus!
Edison Borba

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