13
de fevereiro de 1977 em São Paulo (S.P.)
Mulher negra, favelada, catadora de
papel, analfabeta até os sete anos, quando aprendeu a ler e escrever.
Apaixonou-se pelas letras, anotou o que
acontecia no seu cotidiano (um diário) que se transformou num livro: Quarto de
Despejo”, traduzido em treze idiomas, e que vendeu mais de um milhão de cópias.
Alguns trechos do quarto de Despejo:
“Quando começaram a demolir as casas
térreas para construir os edifícios, nós, os pobres que residíamos nas
habitações coletivas, fomos despejados e ficamos residindo debaixo das pontes.
É por isso que eu denomino que a favela é o quarto de despejo de uma cidade.
Nós, os pobres, somos os trastes velhos”.
“Deixei o leito às 4 horas para
escrever. Abri a porta e contemplei o céu estrelado. Quando o astro-rei começou
a despontar eu fui buscar água. Tive sorte! As mulheres não estavam na
torneira. Enchi minha lata e zarpei”.
“Eu não tenho homem em casa. É só eu e
meus filhos. Mas eu não pretendo relaxar. O meu sonho era andar limpinha, usar
roupas de alto preço, residir numa casa confortável, mas não é possível. Eu não
estou descontente com a profissão que exerço. Já habituei-me a andar suja. Já
faz oito anos que cato papel. O desgosto que tenho é residir em favela”.
“Que suplicio catar papel
atualmente! Tenho que levar a minha filha Vera Eunice. Ela está com dois anos,
e não gosta de ficar em casa. Eu ponho o saco na cabeça e levo-a nos braços.
Suporto o peso do saco na cabeça e suporto o peso da Vera Eunice nos braços.
Tem hora que revolto-me. Depois
domino-me. Ela não tem culpa de estar no mundo”.
Maria Carolina em Quarto de Despejo fala sobre como era viver numa favela, seu cotidiano,
seus sonhos e seu passado. A história
desta mulher, é fascinante, singela e triste. Negra, semianalfabeta, favelada e
catadora de lixo, ela tornou-se famosa e conhecida internacionalmente por sua
obra literária. Porém, a sua ingenuidade e o seu passado, contribuíram para que
aproveitadores a deixassem na miséria, após conseguir sucesso com sua obra.
Como escritora, deu entrevistas, ganhou prêmios, viajou ao exterior sendo
aplaudida por um mundo que logo a esqueceria. Seus livros seguintes a quarto de
Despejo, não tiveram a mesma repercussão. Morreu esquecida no barraco de um dos
seus filhos.
Bitita era o seu apelido na infância, e tornou-se outro
livro, “O Diário de Bitita” no qual ela descreve usando uma linguagem simples a
sua infância em Minas Gerais.
Quarto de Despejo tornou-se polêmico no mundo acadêmico,
criando para o jornalista Audálio Dantas, que descobriu o diário de Carolina,
diversos problemas. Muitos não acreditavam se tratar de uma obra escrita por
uma mulher negra, favelada e semianalfabeta. Afirmavam ser um embuste, pois no
texto havia palavras rebuscadas e que não poderiam ser escritas por uma mulher
como Carolina Maria de Jesus.
Audálio foi chamado de embusteiro, pois na obra havia termos
como “astro – rei” no lugar de sol e frases inteiras como “acordei, abluí-me e
aleitei-me”. Alguns jornalistas afirmavam que o livro Quarto de Despejo, era
uma fraude.
Maria Carolina de Jesus viveu e morreu lutando contra o preconceito
que marcou a sua vida desde o seu nascimento.
Este ano, comemoramos os cem anos desta mulher brasileira,
vítima de uma sociedade preconceituosa!
Vale a pena conhecer a sua obra!
Edison Borba
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