sábado, 29 de novembro de 2014

OS CEM ANOS DE BITITA!

Maria Carolina de Jesus -  14 de março de 1914 em Sacramento  (M.G.)

                                          13 de fevereiro de 1977 em São Paulo (S.P.)
Mulher negra, favelada, catadora de papel, analfabeta até os sete anos, quando aprendeu a ler e escrever. Apaixonou-se pelas letras,  anotou o que acontecia no seu cotidiano (um diário) que se transformou num livro: Quarto de Despejo”, traduzido em treze idiomas, e que vendeu mais de um milhão de cópias.
      
                   Alguns trechos do quarto de Despejo:
“Quando começaram a demolir as casas térreas para construir os edifícios, nós, os pobres que residíamos nas habitações coletivas, fomos despejados e ficamos residindo debaixo das pontes. É por isso que eu denomino que a favela é o quarto de despejo de uma cidade. Nós, os pobres, somos os trastes velhos”.
 
“Deixei o leito às 4 horas para escrever. Abri a porta e contemplei o céu estrelado. Quando o astro-rei começou a despontar eu fui buscar água. Tive sorte! As mulheres não estavam na torneira. Enchi minha lata e zarpei”.
 
“Eu não tenho homem em casa. É só eu e meus filhos. Mas eu não pretendo relaxar. O meu sonho era andar limpinha, usar roupas de alto preço, residir numa casa confortável, mas não é possível. Eu não estou descontente com a profissão que exerço. Já habituei-me a andar suja. Já faz oito anos que cato papel. O desgosto que tenho é residir em favela”.
 
“Que suplicio catar papel atualmente! Tenho que levar a minha filha Vera Eunice. Ela está com dois anos, e não gosta de ficar em casa. Eu ponho o saco na cabeça e levo-a nos braços. Suporto o peso do saco na cabeça e suporto o peso da Vera Eunice nos braços. Tem hora que revolto-me.  Depois domino-me. Ela não tem culpa de estar no mundo”.
         Maria Carolina em Quarto de Despejo fala sobre  como era viver numa favela, seu cotidiano, seus sonhos e seu passado.  A história desta mulher, é fascinante, singela e triste. Negra, semianalfabeta, favelada e catadora de lixo, ela tornou-se famosa e conhecida internacionalmente por sua obra literária. Porém, a sua ingenuidade e o seu passado, contribuíram para que aproveitadores a deixassem na miséria, após conseguir sucesso com sua obra. Como escritora, deu entrevistas, ganhou prêmios, viajou ao exterior sendo aplaudida por um mundo que logo a esqueceria. Seus livros seguintes a quarto de Despejo, não tiveram a mesma repercussão. Morreu esquecida no barraco de um dos seus filhos.  
Bitita era o seu apelido na infância, e tornou-se outro livro, “O Diário de Bitita” no qual ela descreve usando uma linguagem simples a sua infância em Minas Gerais.
Quarto de Despejo tornou-se polêmico no mundo acadêmico, criando para o jornalista Audálio Dantas, que descobriu o diário de Carolina, diversos problemas. Muitos não acreditavam se tratar de uma obra escrita por uma mulher negra, favelada e semianalfabeta. Afirmavam ser um embuste, pois no texto havia palavras rebuscadas e que não poderiam ser escritas por uma mulher como Carolina Maria de Jesus.
Audálio foi chamado de embusteiro, pois na obra havia termos como “astro – rei” no lugar de sol e frases inteiras como “acordei, abluí-me e aleitei-me”. Alguns jornalistas afirmavam que o livro Quarto de Despejo, era uma fraude.
Maria Carolina de Jesus  viveu e morreu lutando contra o preconceito que marcou a sua vida desde o seu nascimento.
Este ano, comemoramos os cem anos desta mulher brasileira, vítima de uma sociedade preconceituosa!
Vale a pena conhecer a sua obra!
Edison Borba
 

 

 

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