segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

SOU CIDADÃO FELIZ!

Coloque o cartão. Digite a senha. Retire o cartão. Sorria você está sendo filmado. Não ultrapasse a linha amarela. Pare. Ande. Coloque o cinto. Digite a sua senha. Coloque seu dedo no local indicado. Digite a tecla cancelar. Operação terminada. Operação cancelada. Lacre o envelope. Coloque o envelope no local indicado. Digite o número de sua conta. Agência não confere. Digite seu CPF. Coloque a mão no local indicado. Você não foi reconhecido! Você não existe! Quem é você? Quem sou eu?
Eu sou o 1967770-6. Mas também sou o 7863334101-8. Dependendo da situação eu também posso ser o 339887-0 ou qualquer outro número. Eu sou uma diversidade de senhas, algarismos e números. Eu tenho CPF, RG, título de eleitor, cartões – vários cartões, diversos cartões. Diariamente digito vários números, várias vezes em variados lugares num só dia.
Às vezes eu nem sei quem sou!
Eu nunca fui bom com números. A Matemática sempre foi um fantasma na minha vida. Equação, raiz quadrada, MMC, MDC, subtrair, trocar sinal, tirar os parênteses, resolver o problema, mudar a vírgula de lugar, somar, adicionar, dividir, multiplicar.
Números, números e números!
Nasci dia 15, no sexto dia da semana, do quarto mês de um ano cuja soma dos seus algarismos, forma um número que é igual ao dobro de 9.
Meu salário tem menos zeros que que eu gostaria que tivesse. Eu que nunca gostei dos zeros, pois eles foram culpados pelas minhas reprovações, agora sinto falta deles na minha conta bancária. A cada dia que passa, eu somo e diminuo minha vida, isto é, somo em idade e diminuo em tempo que ainda tenho para viver. Essa é uma equação macabra, que eu nunca gostaria de resolver, ela deveria ser como as paralelas, que nunca se encontram, nem no infinito.
E assim vou sobrevivendo, passando cartões, digitando senhas, sorrindo para câmeras, obedecendo às ordens que recebo, de diversas formas e por variados meios.
Sigo dentro das regras e segundo as Leis de meu País. Sou um cidadão nota dez, mas isto não significa que eu seja aplaudido ou respeitado por ser tão subserviente. Vivo numa democracia que me obriga a votar. Sou livre para escolher quem fará as regras que eu devo seguir, e se por acaso eu não puder obedecer algum item de alguma Lei, desta Democracia, que até me “permite” votar, eu serei punido, até se não puder votar! Amo a minha confusa República Democrática!
Eu não entendo o governo que é do povo, para o povo e feito pelo povo; mas que o povo nem sabe disso! Creio que não sou inteligente o suficiente para compreender tão complexo sistema!
Eta, vida de gado! Eu sou marcado, mas sou feliz!
Edison Borba

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