quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

UMA MULHER ILIBADA

Ontem, dia 23 de dezembro de 2015, os telejornais exibiram o discurso da Senhora Presidente do Brasil, em que ela afirmou veementemente ser uma mulher de vida ilibada. Eu e minha família, reunidos na sala, ouvíamos em silêncio, até o momento em que meu tio Zezinho acrescentou: “a senhora também tem um caráter sem jaça!”
Mas, vovó, que também assistia ao pronunciamento quebrou o silêncio da sala e falou para a família, enquanto levantava de sua cadeira de balanço: “dize-me com quem andas e te direi quem és”. Com aquela observação a vetusta senhora, provocou um alvoroço na família, que até então assistia ao telejornal passivamente.
Lucinha, minha sobrinha adolescente, pediu explicações sobre o significado de ilibada e jaça, palavras que ela não conhecia, apesar de estar cursando a segunda série do ensino médio.
Tia Leda, professora aposentada, resolveu a questão, buscando em seu dicionário mental as respostas: ilibado do latim illibatu não tocado, sem mancha, puro, incorrupto. E dando prosseguimento à sua explicação, concluiu: “jaça – imperfeição na estrutura física de uma pedra preciosa, por metáfora mácula, ou seja, quando tio Zezinho afirmou que a presidente tinha um caráter sem jaça, ele afirmou que Dilma além de ilibada é uma mulher sem máculas (manchas) em sua vida.
Eu, que me mantivera quieto durante todo o tempo dessa querela, quebrei meu silêncio e pedi ao grupo que refletisse sobre as palavras da vovó: “diga-me com quem andas e te direi quem és!”. Foi neste momento, que Dorinha, esposa do tio Zezinho acrescentou: “quem anda com porcos farelo come!”
Foi neste momento, que rolou barraco na sala. Todos falando alto e ao mesmo tempo. Ilibada, jaça, farelo, porcos, vida além de outras palavras que não vale a pena serem publicadas aqui.
Eu, que não sou adepto a baixaria, sai de mansinho do ambiente e me recolhi no quarto. Porém, as palavras de vovó continuaram a martelar em meu cérebro, provocando dúvidas, que me deixaram com dor de cabeça.
Com quem andas? Dize-me com quem andas! É possível continuar ilibado vivendo no meio de porcos? Será que o farelo, que os suínos consomem, pode respingar em minha roupa? A má conduta do meu amigo pode manchar a minha reputação? Quem assiste passivamente a um assassinato ou a um roubo, está sendo conivente com o ato? E neste caso a pessoa deixa de ter uma conduta ilibada? E a jaça do caráter, como fica, na convivência com corruptos?
E foi com todas estas dúvidas que fechei minha janela e fui dormir, pensando numa mulher ilibada, chamada Dilma Roussef.
Edison Borba

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