quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

AMOR GELADO

           Entrei na cozinha e observei que a porta da minha geladeira estava aberta. O chão molhado, algumas gotas d’água  ameaçando se desprender das prateleiras,  alimentos derretidos e outros suados pareciam chorar pela minha falta de cuidado.
Minha companheira, que tanto me ajuda a viver estava ali, parada no canto da cozinha, encostada nos ladrilhos lamentando pelo meu descuido.
Logo ela que garante a minha saúde e o meu bem-estar.
No verão conserva meu sorvete e garante que a minha água esteja fresquinha e as verduras  saudáveis, que me permitem saborear deliciosas saladas.
Olhando para aquela criatura branquinha, percebi a importância da nossa relação. Sem ela minha saúde corre perigo, os sabores se perdem e neste calor “saárico” eu não sobreviveria.
Lembrei–me das festas e alegrias que ela me propiciou ao garantir para meus convidados o refrigerante gelado e o vinho na temperatura correta, torta fresquinha e os petiscos no ponto para serem servidos.
Quantos elogios eu recebi, graças à sua colaboração.
Faz muito tempo que ela entrou em minha vida. Tinha eu uns dez anos, quando pela primeira vez,  chegou à minha casa. Minha mãe, já havia comprado um pinguim, que foi imediatamente colocado sobre seu teto. Na porta um bordado garantindo a limpeza do “pegador”. Família reunida diante daquele lindo objeto comprado em diversas prestações. Extasiados ficamos admirando a beleza do nosso novo componente familiar, e a primeira a gente nunca esquece. Nascia ali um relacionamento, que perdura até hoje, um amor gelado, porém fiel.
Minha avó, uma mineira conservadora, negou-se a usar aquele “monstro”, para os seus doces. Durante muito tempo vovó não chegava perto da usurpadora do seu espaço em nossa casa e em nossos corações. A querida vozinha, não imaginava que ela jamais poderia ser substituída. Vó é vó, mas sem dúvida, desde a chegada da nossa querida “gel”, nossa vida mudou. Era sorvete feito em casa, sucos maravilhosos,  com frutas tiradas do pé, água sempre geladinha e o prazer de abrir a porta e apenas olhar a beleza das prateleiras, sempre arrumadinhas pela minha mãe.
Quando, um dia, resolvi ter meu apartamento, ela foi a minha primeira companheira. Um pouco diferente da que fez parte da minha infância.  Não havia mais o pinguim e nem o paninho em sua porta e as  suas formas estavam mais arrojadas., mas continuava linda e desejável. Sem ela minha vida seria caótica.
Que me desculpe o fogão, mas a geladeira é paixão antiga. Conservadora e ao mesmo tempo renovadora. Conservando o que compro, me permite recriar sabores quando misturo o que sobrou do jantar de ontem para ressurgir no almoço de hoje.
Companheira fiel, guardiã da minha alimentação, garantindo sempre o gelo para a bebida dos amigos e no verão, até o frescor que emana do seu interior ajuda a minha sobrevivência.
Peço-lhe desculpas pela distração, esquecendo  você naquele canto da cozinha.
A minha geladeira, meu eterno amor e paixão.
Juntos, seremos felizes para sempre. Beijos de seu admirador Edison Borba

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