Entrei na cozinha e observei que a porta
da minha geladeira estava aberta. O chão molhado, algumas gotas d’água ameaçando se desprender das prateleiras, alimentos derretidos e outros suados pareciam
chorar pela minha falta de cuidado.
Minha companheira, que tanto me ajuda a
viver estava ali, parada no canto da cozinha, encostada nos ladrilhos
lamentando pelo meu descuido.
Logo ela que garante a minha saúde e o
meu bem-estar.
No verão conserva meu sorvete e garante
que a minha água esteja fresquinha e as verduras saudáveis, que me permitem saborear
deliciosas saladas.
Olhando para aquela criatura branquinha,
percebi a importância da nossa relação. Sem ela minha saúde corre perigo, os
sabores se perdem e neste calor “saárico” eu não sobreviveria.
Lembrei–me das festas e alegrias que ela
me propiciou ao garantir para meus convidados o refrigerante gelado e o vinho
na temperatura correta, torta fresquinha e os petiscos no ponto para serem
servidos.
Quantos elogios eu recebi, graças à sua
colaboração.
Faz muito tempo que ela entrou em minha
vida. Tinha eu uns dez anos, quando pela primeira vez, chegou à minha casa. Minha mãe, já havia
comprado um pinguim, que foi imediatamente colocado sobre seu teto. Na porta um
bordado garantindo a limpeza do “pegador”. Família reunida diante daquele lindo
objeto comprado em diversas prestações. Extasiados ficamos admirando a beleza
do nosso novo componente familiar, e a primeira a gente nunca esquece. Nascia
ali um relacionamento, que perdura até hoje, um amor gelado, porém fiel.
Minha avó, uma mineira conservadora,
negou-se a usar aquele “monstro”, para os seus doces. Durante muito tempo vovó
não chegava perto da usurpadora do seu espaço em nossa casa e em nossos
corações. A querida vozinha, não imaginava que ela jamais poderia ser
substituída. Vó é vó, mas sem dúvida, desde a chegada da nossa querida “gel”,
nossa vida mudou. Era sorvete feito em casa, sucos maravilhosos, com frutas tiradas do pé, água sempre
geladinha e o prazer de abrir a porta e apenas olhar a beleza das prateleiras,
sempre arrumadinhas pela minha mãe.
Quando, um dia, resolvi ter meu
apartamento, ela foi a minha primeira companheira. Um pouco diferente da que
fez parte da minha infância. Não havia
mais o pinguim e nem o paninho em sua porta e as suas formas estavam mais arrojadas., mas
continuava linda e desejável. Sem ela minha vida seria caótica.
Que me desculpe o fogão, mas a geladeira
é paixão antiga. Conservadora e ao mesmo tempo renovadora. Conservando o que
compro, me permite recriar sabores quando misturo o que sobrou do jantar de
ontem para ressurgir no almoço de hoje.
Companheira fiel, guardiã da minha
alimentação, garantindo sempre o gelo para a bebida dos amigos e no verão, até
o frescor que emana do seu interior ajuda a minha sobrevivência.
Peço-lhe desculpas pela distração,
esquecendo você naquele canto da
cozinha.
A minha geladeira, meu eterno amor e
paixão.
Juntos, seremos felizes para sempre. Beijos
de seu admirador Edison Borba
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