sábado, 13 de setembro de 2014

FICHA PARA ABORTO

Nome: Jandira Magdalena dos Santos Cruz
Idade: 27 anos
Profissão: Auxiliar Administrativa
Estado civil: separada (mãe de dois filhos)
Residência: Campo Grande, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro.


Fato:  separada do marido e mãe de duas crianças, Jandira engravidou pela  terceira vez. Apesar de viver com sua família, ela mediu as consequências sociais desfavoráveis  de ser mãe pela terceira vez. Conversou com suas amigas e a conclusão mais imediata seria interromper a gravidez indesejada. Como toda a sociedade  brasileira sabe, existem diversas clínicas especializadas neste tipo de “cirurgia” (??!!).  Funcionando clandestinamente (??!!), esses estabelecimentos não possuem nenhuma condição para tratar de assunto tão sério. Profissionais incompetentes, falta de higiene e de condições de socorro caso aconteça algum imprevisto, durante o processo. Jandira, mulher inteligente, mesmo sabendo de todos os riscos a que estava se submetendo, conseguiu o dinheiro (quatro mil reais) para pagar os serviços abortivos. Orientada por uma amiga intima, que faz parte de uma rede de clínicas clandestinas abortivas, saiu de casa confiante que conseguiria resolver o seu grande problema.

O dia era 26 de agosto, quando às 10h06min, ela enviou para o marido uma mensagem informando de sua decisão. Embarcou num taxi com outras mulheres. Sentindo-se assustada, ela envia para familiares um recado telefônico, no qual diz que está em pânico e pede que rezem para que nada da mal aconteça com ela.

Jandira desapareceu!
Sua mãe e filhas aguardaram o seu retorno por horas e dias.
Jandira sumiu!
Jandira morreu!
Mais uma vítima da eterna discussão sobre a legalização do aborto. É de conhecimento de toda a sociedade civil,  militar e religiosa que existem diversas clínicas abortivas espalhadas por todo país. É de conhecimento que muitas mulheres das mais diversas classes sociais, usam estes serviços. Infelizmente, as menos favorecidas; social e financeiramente,  morrem ou ficam com sequelas.

Apesar do problema, ser de domínio público, não existe coragem para que um debate franco e honesto resolva esta questão.

Quando uma gravidez é considerada indesejável, alguma coisa muito séria está acontecendo no mundo feminino: falta de informação, educação sexual inadequada, insegurança quanto à perda do parceiro, como sustentar mais um filho, como o fato de ser mãe solteira ainda é tratado pela sociedade entre outras questões.

O aborto surge como uma solução para resolver preconceitos que ainda persistem na moderna sociedade do século vinte um. Recorrer a uma ação tão extrema deve ser algo indescritivelmente sofrido para uma mulher.

Ela, a “pecadora”, deverá arcar sozinha com todos os ônus por sua atitude!”

Enquanto a hipocrisia estiver à frente das discussões e decisões de assunto tão sério, outras Jandira Magdalena continuarão vítimas da covardia social que impede  uma solução para este problema.

Edison Borba

 

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