Em
1972, Marina Colassanti, nos brindou com uma comovente crônica: “EU SEI, MAS
NÃO DEVIA”. As palavras de Marina perpetuaram-se e até hoje; o que ela escreveu
continua exatamente como há mais de quarenta anos. Num dos trechos, podemos
ler:
“A
gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a
guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os
números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas
negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa
duração”.
Há anos que vivemos
num Rio de Janeiro, cercado por traficantes guerrilheiros que não descansam
nunca. Podemos observar que temos um fato histórico constatado como antes das
UPPPS e depois das UPPS. Houve uma trégua durante a implantação das unidades de
polícia pacificadora. O grande aparato policial mais a ação da mídia, jornais,
emissoras de rádio e televisão, fizeram com que muitos bandidos deixassem de
circular. Porém, suas raízes estavam bem fincadas e tal qual uma floresta, que
após um incêndio as árvores começam a brotar novamente, os traficantes estão
voltando a agir. Diariamente temos notícias de troca de tiros, balas perdidas,
policiais e civis feridos, porém quase nada aparece nos noticiários. Poucos
telejornais apresentam material
mostrando o que tem acontecido nas comunidades. Nada é apresentado, nada
é comentado: ou estamos fingindo que tudo vai bem ou então, lamentavelmente,
estamos nos acostumando com bandidos, traficantes, milicianos, tiros, balas
perdidas, feridos e feridas que nunca cicatrizam.
Estamos fechando
nossas janelas, blindando nossos carros e cada vez mais reduzindo a nossa
exposição. Gradativamente estamos aceitando, passivamente às condições implantadas
pelos bandidos. Assinamos um tratado de rendição e fingimos que tudo vai bem.
Como
disse Marina, aos poucos estamos nos acostumando a não olhar para fora, estamos
esquecendo a luz do sol e a beleza que a natureza nos oferece a cada dia.
Estamos
perdendo o direito à felicidade para evitar mais sofrimentos, estamos nos
recolhendo da vida gradativamente.
Às
vésperas de mais uma eleição, não consegui, como cidadão e eleitor, vislumbrar
na voz de nenhum dos candidatos algo que realmente possa soar como concreto
sobre a virmos gozar de uma paz duradoura. Nada é dito, nada
é planejado quanto ao direito do cidadão trabalhador poder ir e vir, circular
pela sua comunidade e pela cidade sem nenhum constrangimento. Será que os
próprios candidatos também já se acostumaram com a terrível situação, que não é
apenas um retrato do Rio de Janeiro, mas de todos os estados brasileiros.
Se
esta observação for verdadeira, isto é, os próprios candidatos ao poder não têm
perspectivas de paz, isto significa que estamos todos acostumados.
Nós
sabemos, mas ...
Edison
Borba
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