terça-feira, 9 de setembro de 2014

SERÁ QUE A GENTE SE ACOSTUMOU?

Em 1972, Marina Colassanti, nos brindou com uma comovente crônica: “EU SEI, MAS NÃO DEVIA”. As palavras de Marina perpetuaram-se e até hoje; o que ela escreveu continua exatamente como há mais de quarenta anos. Num dos trechos, podemos ler:
“A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração”.
Há anos que vivemos num Rio de Janeiro, cercado por traficantes guerrilheiros que não descansam nunca. Podemos observar que temos um fato histórico constatado como antes das UPPPS e depois das UPPS. Houve uma trégua durante a implantação das unidades de polícia pacificadora. O grande aparato policial mais a ação da mídia, jornais, emissoras de rádio e televisão, fizeram com que muitos bandidos deixassem de circular. Porém, suas raízes estavam bem fincadas e tal qual uma floresta, que após um incêndio as árvores começam a brotar novamente, os traficantes estão voltando a agir. Diariamente temos notícias de troca de tiros, balas perdidas, policiais e civis feridos, porém quase nada aparece nos noticiários. Poucos telejornais apresentam material  mostrando o que tem acontecido nas comunidades. Nada é apresentado, nada é comentado: ou estamos fingindo que tudo vai bem ou então, lamentavelmente, estamos nos acostumando com bandidos, traficantes, milicianos, tiros, balas perdidas, feridos e feridas que nunca cicatrizam.
Estamos fechando nossas janelas, blindando nossos carros e cada vez mais reduzindo a nossa exposição. Gradativamente estamos aceitando, passivamente às condições implantadas pelos bandidos. Assinamos um tratado de rendição e fingimos que tudo vai bem.
Como disse Marina, aos poucos estamos nos acostumando a não olhar para fora, estamos esquecendo a luz do sol e a beleza que a natureza nos oferece a cada dia.
Estamos perdendo o direito à felicidade para evitar mais sofrimentos, estamos nos recolhendo da vida gradativamente.
 
Às vésperas de mais uma eleição, não consegui, como cidadão e eleitor, vislumbrar na voz de nenhum dos candidatos algo que realmente possa soar como concreto sobre a  virmos  gozar de uma paz duradoura. Nada é dito, nada é planejado quanto ao direito do cidadão trabalhador poder ir e vir, circular pela sua comunidade e pela cidade sem nenhum constrangimento. Será que os próprios candidatos também já se acostumaram com a terrível situação, que não é apenas um retrato do Rio de Janeiro, mas de todos os estados brasileiros.
 
Se esta observação for verdadeira, isto é, os próprios candidatos ao poder não têm perspectivas de paz, isto significa que estamos todos acostumados.
Nós sabemos, mas ...
Edison Borba
 
 

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