quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

COTIDIANO

Mais um dia de sangue no asfalto, tiros para o alto e mãos para cima.
Mais um dia de mãos algemadas, pulsos cerrados e rostos cobertos.
Mais um dia de lágrimas vertidas, de corações acelerados e corpos suados.
Mais um dia difícil de viver e fácil de morrer....
Mais um dia de mulheres chorando, crianças gritando e homens se matando.
Mais um dia de balas achadas, detonadas, espalhadas no chão.
Mais um dia de corpos sem vida, escolas fechadas e sociedade parada.
Indignação!
Aceitação!
Humilhação!
Mais um dia de rotina: ir às compras, pagar as contas, marcar um encontro.
Mais um dia de não fazer compras, não pagar as contas e não se encontrar.
Hoje não posso! Amanhã é possível! Depois pode ser!
Depende dos “home”. Depende da fome. Depende do medo.
Se não chover – apareço!
Se tiver dinheiro – compareço!
Mas se tiver tiro, bala voando, fuzil atirando vou adiando.
Hoje não posso, vai ter invasão, vai ter caveirão, vai ter confusão.
Amanhã, é provável que a comunidade faça protesto e tenha manifesto.
Queimem pneus, peçam justiça gritando refrões!
Espere um pouquinho, que vou assuntar,
se posso sair para trabalhar, para estudar e até namorar.
Se os “home deixá”.
Os “home” é que manda! Os “home” comanda!
Não vou reclamar. Vou me acostumar. Eu vou é calar!
Não quero ficar, na lista do lixo.
Não vou correr risco, de “cagoetar”.
Tem até microondas.
Prá gente assar.
Não vou arriscar.
E nem vou gritar.
Eu vou é calar ... ficar bem quietinho ... falando baixinho.
Os “home” mandaram. A gente obedece.
É só mais um dia ...
É só mais um dia ...
Dá para esperar!
                             

Edison Borba

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