terça-feira, 10 de janeiro de 2012

BURACO DA FECHADURA

Quem nunca teve a curiosidade de olhar por um buraco de fechadura? A curiosidade é um comportamento inerente à espécie humana. Talvez seja esse o motivo das altas audiências do “reality shows”.  A vontade de olhar pelo buraco da fechadura  é plenamente satisfeita durante esses programas.
Um grupo de pessoas reunidas numa casa ou fazenda, durante um longo período, enquanto milhares de olhos acompanham as loucuras e irreverências, que acontecem neste tipo de ambiente. Um prêmio em dinheiro aguça a cobiça, que vem acompanhada de todos os tipos de comportamentos que muitas vezes tentamos ocultar. Vaidade, ambição, intriga, maldade, artimanhas, violência psicológica (às vezes até física), gula e sexo são servidos diariamente aos telespectadores por um apresentador, com aparência de bom moço, cujo papel é incitar e reforçar todos os tipos de sentimentos e emoções.
Uma grande fechadura e milhares de olhos seguem atentamente às refeições, os banhos, os atos fisiológicos e cenas de sexo.
Quem fica com quem? Quem é o mais ambicioso? O mais intrigante? O mais bonzinho? O mais ousado? O mais sexy?
Todas essas dúvidas vão sendo esclarecidas durante a realização do show.
Quem vai para o paredão? Quem vai ser o fazendeiro? Quem deve sair?
Essas questões quando são respondidas, saciam desejos escondidos no fundo das nossas almas. Quem deverá receber o grande prêmio? O mais sofredor? O mais intrigante? O mais convincente quanto às suas aspirações e desejos?
Durante meses, a população acompanha, torce, vibra e se deixa corromper através dos participantes, cujas ações são um misto de verdade e interpretação.
Na fazenda, a presença de animais ajuda  a minimizar o nível de agressividade que esse tipo de programa deixa transparecer. Cavalos, aves, coelhos e cachorros trazem uma centelha de humanização aos concorrentes.
Vale tudo por dinheiro e fama. Tudo mesmo! Quem participa de reality show, sabe que o que interessa é o que se poderá conseguir no futuro. Dinheiro, contratos, fama, revistas, jornais, aclamação popular, vida de herói. Para se conseguir tudo isso basta não ter medo e nem escrúpulos. É saber jogar sem ética, sem dó, sem roupa, sem limites.
Enquanto o mundo estiver carente de heróis verdadeiros, de honestidade política, de escolha por mérito e a “Lei de Gerson” (quero levar vantagem em tudo) ainda estiver vigorando, esse tipo de programa, no formato em que é exibido,  será sucesso de audiência.
Não adianta argumentar: ou trocamos de canal, ou desligamos a televisão ou vamos morar na casa ou na fazendo.
A escolha é particular e individual:  colocar ou não o olho na fechadura.

Edison Borba

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