domingo, 29 de janeiro de 2012

IDENTIDADE?

A carteira de identidade é um documento que serve para nos identificar (obvio). Logo, quando a esquecemos na gaveta, ficamos sem saber quem somos e corremos o risco de pegarmos uma “cana”. Não adianta falarmos os nomes dos pais,  a data do nascimento, o endereço e outras informações. Sem a carteira de identidade, não somos identificados.

Após gastar uma fortuna com analistas, psiquiatras e psicólogos para me conhecer e poder exibir uma identidade à sociedade, um policial me levou para a delegacia, só porque eu não pude a carteira lhe mostrar (a carteira de identidade - obvio).

Tentei argumentar, que sou uma pessoa romântica. Leitor de Jorge Amado e de Fernando Pessoa. Cantarolei  melodia famosa de Tom Jobim, o maestro, e recitei de Vinícius uma linda poesia. Fiz comentários sobre o filme Casablanca e me disse apaixonado pela voz do Sinatra,  mesmo assim  não fui acatado pelo homem fardado, que insistia em me pedir a tal da “identidade”.

Num determinado momento, apelando para o meu baú de lembranças,  falei da minha infância quando empinava pipa e rodava pião. Lembrei até  o nome da minha primeira professora. Descrevi pormenorizadamente a casa onde nasci. Havia um pé de cajá e uma linda goiabeira. Um balanço e uma roseira. Do meu cachorro “Zorro” que sabia pular corda. Comentei até do tombo que me deixou cicatriz, mas o tira, só queria ver a minha identidade. Mostre a carteira, repetia!

Perguntei se valia  lembrar da namoradinha que tive aos quinze anos. Chamava-se Luciléa, tinha olhos azuis e sorriso envergonhado. Nem assim me livrei de falar com o delegado.

Querendo impressionar a autoridade, comentei sobre o meu cursinho de inglês e que sabia usar o computador. De internet eu era  “cobra”, sabia  escanear, configurar e copiar mas nada disso valeu. Mostre a identidade repetia o soldado, de farda bem engomada. Sem carteira não vale. Você não tem identidade.

Numa atitude respeitosa, prá não “zangar”  tão nobre policial, falei sem pestanejar: olhe pra mim, mire-se nos meus olhos, será que minha presença aqui não vale?

Mas o guarda impiedoso repetia, mostre a sua carteira, com número e data, é nela que a justiça encontrará sua história. Sem ela, eu lamento você não tem identidade.

De nada adiantou, o guarda irredutível ficou. Levou-me num camburão sem dó e nem piedade. Não houve argumentos e nem entendimentos. Tudo porque eu não estava documentado. Sem carteira e meus números nada sou e nada valho. Afirmei ser vascaíno, mas o “puliça” era flamengo e mais irritado ficou.

Nem Freud, Jung ou Lacan nada puderam fazer. Sem a tal da carteirinha no xadrez eu fui parar. Agora eu voltei para colo do meu querido analista, que após consulta séria, prá me fornecer um recibo, me perguntou sem malícia, como se fosse polícia: qual a sua identidade?

Edison Borba




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