domingo, 30 de outubro de 2011

ADEUS

O que leva uma pessoa ao suicídio?
Que problemas podem ser tão complexos que não permitam uma solução?
Será por covardia ou coragem que alguém tenta contra sua própria existência?
Essas e outras perguntas, sempre me acompanharam e me fizeram refletir. Houve época que eram questões que surgiam na minha cabeça, por vias indiretas; notas em jornais, ou pelos noticiários da televisão ou rádio. Porém, alguém muito próximo assumiu esse ato. Nesse momento esses questionamentos ficaram mais doloridos e me trouxeram outros, que até então não faziam parte dos meus medos.
Por que ninguém percebeu o que estava para acontecer?
Por que eu, amigo tão próximo, não tive a sensibilidade de oferecer ajuda necessária?
Ficam as perguntas. Não sei até hoje quais seriam as respostas, restou apenas uma carta, que guardo com muito carinho e cuidado, buscando perceber em cada linha,  o motivo para uma atitude tão dolorida e o meu triste adeus.
“Caro amigo,
Eu sei como é difícil acharmos o verdadeiro caminho da vida. Mas, o que será o verdadeiro caminho? Ou, qual será o caminho da verdade? Não sou a melhor pessoa para indicar a direção ou a estrada mais conveniente. Eu também, apesar de já ter caminhado muito, ainda me sinto um “homem que busca  a sua verdade”.
Quando uma pessoa tenta indicar maneiras de pensar para uma outra, ela pode se tornar perigosa. Nem sempre o que é bom para um é bom para o outro.
Eu me preocupo muito com  aqueles que tentam converter ou convencer outros sobre as suas idéias, crenças e ideologias. O que cada um deve buscar é o significado da sua vida procurando dar significado à sua vida. Com fazer isso? Acredito que seja algo muito particular e íntimo. Não há receitas. Talvez um caminho seja aprender todos os dias com tudo que acontece em cada dia.  Sendo um bom ouvinte. Procurando estar  alerta e atento, como se estivesse na escola, prestando a atenção numa aula. Ouvindo as explicações de cada professor.
Pode ser que o aprendizado da vida seja feito assim: várias pessoas, através de suas experiências, vão nos passando informações. Vamos elaborando, aprimorando e organizando cada uma delas. Porém, apenas a nossa consciência poderá ordená-las,  transformando-as em aprendizado.
Por esse motivo, é que precisamos conhecer e conviver  sem preconceitos. É necessário abrir as portas do nosso coração e ouvir as diversas “verdades” que existem no mundo.
Caro amigo, deixe que o amor  guie o seu coração, pois é ele que age como a força de gravidade, atraindo as lições que poderão se transformar em boas experiências. Portanto, não devemos sair procurando pela verdade, é só olharmos ao nosso redor, que  poderemos encontrá-la.Devemos  viver com a paz, deixando de fora do nosso coração a violência, os temores e os medos. Não fique tão preocupado em buscar caminhos verdadeiros ou verdades absolutas. Viva plenamente cada dia. Seja feliz todo dia. Afinal, verdades... que verdades?
Atenciosamente, seu amigo Sérgio.
Carta encontrada junto ao corpo do meu amigo - um suicida.
Do livro DOIS EM CRISE – Editora All Print – 2010 – Edison Borba

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