domingo, 2 de outubro de 2011

QUEM QUISER QUE CONTE A OUTRA

Existem diversas formas de contarmos uma história. Em “Era uma Vez”, podemos perceber que os personagens receberam um tratamento zoológico, ficando com características, bastante estranhas. Houve também algumas inversões de valores e reajustes, culminando numa releitura fantástica. Porém, quem quiser que conte a outra, isto é, a outra história que  é muito  atraente e interessante. Mas essa tem algo de especial. Vamos conferir?
ERA UMA  VEZ  uma menina, muito tímida. Ela nunca reclamava de nada, vivia engolindo sapos. Como em toda história triste, dessas que nos fazem chorar lágrimas de crocodilo, ela era órfã. Seu pai morreu na África. Era caçador de javalis, e como diz o ditado: “tem o dia da caça, mas também tem o do caçador”. Infelizmente, para ele e felizmente para a fauna africana, ele foi fazer um safári, justamente no dia da caça. Mas, não foram os javalis, que o exterminaram, apesar de terem todos os motivos do mundo para fazê-lo. Quem comeu o pai da garotinha, foi um elefante. Tudo por conta de um mal entendido.  Entre os proboscídeos, havia um  que parou de ser vegetariano. Após um longo período comendo plantinhas e folhinhas, esse robusto animal desistiu dessa alimentação, e por influência de uma onça pintada passou a comer  carne. Para azar do nosso anti-herói foi exatamente no dia do seu safári que o “popozudo elefa”  resolveu iniciar seu novo regime. E foi assim que a nossa menina ficou órfã e para completar a tristeza dessa fábula,  ficou morando com a sua madrasta, uma verdadeira cascavel. Esta cruel mulher vivia falando cobras e lagartos da pequena menina. Todos os dias, a garota tinha que trabalhar como um burro, enquanto ela (a madrasta) ria como uma hiena. Durante a noite, dormia com os cães e os gatos da casa, num cantinho da cozinha, onde também viviam ratos. Enquanto a malvada dormia como os ursos no inverno, repousando seu robusto corpo (ela parecia um hipopótamo) sobre um colchão feito de penas de ganso, a nossa heroína passava as madrugadas chorando como um bezerro desmamado, abraçada ao seu, sujo e fedorento coelhinho de pelúcia.
A madrasta comia como uma vaca  enchendo a pança como um ruminante. Após o almoço  ficava cochilando a sombra de uma enorme mangueira, pois  gostava de ouvir o cantar dos pássaros.
O tempo foi passando e a nossa menina, crescendo. Seu corpo delgado como o de uma gazela, contrastava com a sua altura. Mesmo assim,  não perdia a elegância no andar. Parecia um cisne flutuando sobre as águas serenas de um lago. Mas, eram os seus olhos de lince lhe conferiam um ar misterioso e enigmático como os de uma coruja, grandes e redondos.
Sua cruel madrasta (como já foi dito acima) deslizava sua maldade por toda a casa. Sempre venenosa como uma aranha, estava constantemente arranjando motivos para tratar à jovem como uma anta. Todos os dias,  beliscava  sua enteada, deixando marcas que mais pareciam picadas de inseto. A pobrezinha ficava com a pele manchada como a de uma zebra.
A vida se arrastando como uma preguiça, até que numa manhã  de sol, quando a jovenzinha fazia as suas tarefas: alimentar os porcos, ordenhar as vacas, recolher os ovos das galinhas além de aparar o pelo das ovelhas, surgiu no horizonte, um jovem mancebo, montado num cavalo branco todo sujo de lama. Os dois estavam sujos, pareciam porcos e cheiravam como gambás. Era um príncipe e o seu cavalo. Cansado e com muita fome o belo rapaz pediu abrigo e foi prontamente atendido.
Foi assim que eles se conheceram. Porém, essa menininha órfã tinha um grande problema: a sua voz. Quando ela falava, parecia uma gralha. Algo tão ruim que fazia até, os lentos jabutis, saírem correndo e se atirarem na lagoa se juntando aos peixes,  sapos e pererecas, todos assustados com aquele horrível som. Eles preferiam ficar junto com piranhas a ter que ouvir aquele grunhido.
Por esse motivo  o príncipe dirigiu sua atenção para a madrasta, que apesar de ter hálito de cabra, tinha um corpo que o deixou cativado. Ela parecia uma baleia, macia e fofa. E ele que gostava de dormir bem acomodado, foi logo se aninhando em seu colo como um sagüi. Esperto como uma raposa o “safadão” percebeu que a madrasta era rica e ele ia poder viver feliz como pinto no lixo.
                                            A menininha?  A coitadinha?
Continua órfã, dormindo com os animais. Chorando como um bezerro desmamado, trabalhando como um burro e agora cuidando da madrasta e do seu marido, que virou seu “paidrasto”.

                             Bem feito!  Quem mandou ser chata como uma pata!

               Quem gostou  bata palmas, que não gostou que conte a outra (história).

                                                        Fim
Edison Borba

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