sexta-feira, 28 de outubro de 2011

A GUERRA DO ACARAJÉ

Você já foi a Bahia? Não! Então vá!
Lá tem caruru. Lá tem vatapá. E também tem acarajé!
Mas o verdadeiro acarajé,  só existe nos tabuleiros das baianas, como cantou o mestre Dorival Caymmi. Essa iguaria está ameaçada de perder a sua essência. Com o crescimento de restaurantes e shoppings, na cidade de Salvador, o acarajé está sendo comercializado de forma inadequada.
Não basta juntar os ingredientes e levá-los ao fogo como uma refeição qualquer. O verdadeiro acarajé tem que ser preparado obedecendo a um ritual, que só as baianas com os seus tabuleiros de madeira sabem fazer. É preciso tratar os ingredientes com respeito, pois cada um deles faz parte da magia e religiosidade que envolve o seu preparo.
Prato africano que chegou ao Brasil, trazido pelos escravos, não perdeu a sua essência com o passar dos anos. Quebrar o feijão-fradinho colocá-lo de molho e esperar soltar a casca, faz parte do processo em que cada etapa tem que ser rigorosamente seguida conforme os preceitos religiosos. Usar colheres de madeira de diferentes tamanhos  sabendo misturar os ingredientes na dosagem certa exigida pelos Deuses africanos é sagrado no preparo do acarajé.



Mais do que juntar feijão, cebola, sal e fritar em azeite-de-dendê, é preciso saber usar a pimenta, que faz com que esse delicioso prato fique mais ou menos quente. Pela quantidade desse tempero, acarajé é conhecido como “bola de fogo”.
Comida de orixás não pode ser preparada ou servida como sendo um prato qualquer, é preciso respeitar os rituais do candomblé, para termos o verdadeiro acarajé. Portanto, não podemos aceitar que essa iguaria seja comercializada por “fast-foods” ou em shoppings, como sendo apenas uma variedade contida num cardápio comum.
Toda baiana, segue um ritual para preparar a massa, fritar os bolinhos e servi-los aos seus fregueses. É preciso pedir licença a Xangô,  salvar Iansã e Oxum, e oferecer o primeiro bolinho para Exu. Um bolinho do verdadeiro acarajé,  pode ser recheado de camarão refogado ou outro tipo de molho, mas tem que ter sempre muita fé nos orixás que permitem que a sua comida nos seja servida de forma profana.
As baianas de Salvador pedem socorro e solicitam que seja delas a primazia e privilégio de comercializarem essa iguaria. Mulheres trabalhadoras, que sobrevivem das tradições culturais dos nossos ancestrais, estão perdendo para o poder econômico que está “roubando” de seus tabuleiros não apenas o direito de comercializar um prato típico da Bahia, mas a nossa tradição.
Precisamos ajudar as queridas baianas nessa luta pelo seu espaço de trabalho e pela manutenção de uma das nossas maiores tradições.
Temos que agradecer e apoiar essas guerreiras, que enfeitam as ruas de Salvador com seus tabuleiros recheados de iguarias e magia.
Vamos ouvir a voz e o pedido dessas queridas mulheres:
Cristina Silva – “eu larguei tudo para me dedicar ao acarajé, porque é uma coisa que eu faço com amor”.
Norma  Santos – “o acarajé sem o axé, sem amor, sem o dendê, não é acarajé. É outro bolinho qualquer, mas acarajé não é. Com ele criei meus 12 filhos”.
Rita Santos – “as grandes empresas têm em suas prateleiras mais de dez mil itens de mercadorias para se vender. O acarajé é uma areinha nesse oceano. Para a baiana, ele é o oceano inteiro.
O verdadeiro acarajé só existe no tabuleiro das BAIANAS!
Edison Borba

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