terça-feira, 25 de outubro de 2011

CORDÃO DE OURO

Cordão de ouro, meu cordão de ouro.
Cordão de ouro, todo o meu tesouro.
Cordão de ouro que me trazia sorte.
Cordão de ouro causou a minha morte.
Passeava com meu filho de treze anos por uma rua de um populoso bairro da cidade do Rio de Janeiro. O lugar se chama Méier. Nele tem lojas, restaurantes, shoppings, salões de beleza e muita gente que passeia pelas suas calçadas.
Lá tem também escritórios e consultórios. Tem gente trabalhando e ganhando honestamente seu salário. Tem crianças nas calçadas, gente jovem e estudantes.
Com seus uniformes variados alunos de várias escolas, andam em bandos como andorinhas. Seus risos e alegria contagiam a todos que passeiam ou caminham pelas ruas desse aprazível lugar.
Automóveis e ônibus trafegam pelas ruas estreitas, num vai-e-vem interminável. Pessoas entram e saem das lojas. Sobem e descem dos coletivos. Se esbarram nas calçadas. Param diante das lindas vitrines num fervilhar humano, muito parecido com um formigueiro.
Guardas apitam nas esquinas, misturando o som dos seus apitos com os das buzinas, num alvoroço interminável.
Tudo isso é vida! Tudo isso é cidade! Tudo isso é movimento!
Coloquei meu cordão de ouro, segurei a mão de meu filho e fomos passear pelas ruas desse incrível lugar. Nos misturamos na multidão. Nos perdemos pelas calçadas. Nos detivemos em frente as luzes das lojas para nos deliciarmos com a variedade de artigos. Roupas, sapatos, brinquedos, presentes e perfumes.
Doces nas prateleiras nos convidavam a um banquete. Lindos, com  dourados cremes, reluziam mais que o meu cordão de ouro.
Eu e meu filho, olhos reluzentes, caminhávamos felizes pelas ruas do Méier, encantados pelo lindo dia de sol.
O ouro do meu cordão brilhou nos olhos malvados do homem mau, despertando a cobiça e a vontade de ter aquilo que não lhe pertencia.
O homem mau levou meu cordão. Levou minha vida. Levou os meus sonhos. O homem mau levou do meu filho o brilho dos olhos.  Deixando  lágrimas, dor e emoção apenas para ter o brilho de um cordão!
 Para o pai assassinado no bairro do Méier – dia 24 de outubro de 2011. Mais uma vítima, mais um número para as estatísticas da criminalidade no Rio de Janeiro.
Edison Borba


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