sexta-feira, 7 de outubro de 2011

VIROU MANCHETE

Existem pessoas  que vivem sonhando em ter seus quinze minutos de fama. Essa necessidade pode se tornar idéia fixa, e virar manchete em noticiários é tão necessário, que vale até sair nas páginas policiais. Fabrício era um desses seres que desejava ver seu nome estampado em letras grandes na primeira página de um jornal. Advogado há mais de quinze anos,  nunca conseguiu defender uma grande causa. Era o que vulgarmente chamamos de advogado de porta de cadeia. Terno surrado, pasta de plástico e gravata desbotada davam àquele homem uma aparência decadente. Apesar disso, seus olhos buliçosos pareciam estar sempre à procura de algo importante para ser analisado.
Passava seus dias de cartório em cartório,  às voltas com a documentação de  poucos clientes. Constantemente visitava presídios, acompanhando e orientando familiares de presos. Nesse tempo de profissão,  já havia trabalhado com diversos casos complicados. Porém, todos envolvendo pessoas  de classes inferiores. Por esse motivo, os honorários de Fabrício eram, muitas vezes, um bolo de chocolate, algumas frutas e salgadinhos feitos pelos familiares dos detentos que ele conseguira diminuir a pena.
Certa vez, visitando um presídio, Fabrício conheceu um preso  diferente de todos  que  já havia tentado defender. Era um homem de classe média, formação universitária e que já havia viajado pelo mundo. Falava diversos idiomas e era dono de uma oratória invejável.
Estava cumprindo pena, segundo seu próprio relato, por engano. Nada do que era acusado procedia: tráfico de drogas, formação de quadrilha e desvio de verbas. Todas essas  acusações eram peremptoriamente negadas. Mas se ele não havia cometido nenhum daqueles delitos, por que as autoridades o mantinham detido? O enigma atraiu Fabrício, que percebeu uma oportunidade de defender uma grande causa,  tornar-se famoso e, quem sabe, sair nas primeiras páginas dos jornais.
Passou dias pesquisando  dados que pudessem ajudá-lo a esclarecer a situação daquele homem. Quanto mais procurava, menos encontrava informações que comprovassem os delitos citados. Porém, a cada dia a vida daquele homem se tornava mais fascinante para Fabrício. Havia três casamentos, vários filhos, diversos empregos, constantes mudanças de endereço, viagens. Mas nada se ligava a nada. Tudo parecia uma colcha onde os retalhos não combinavam.
Fabrício resolveu abandonar o caso.
Num dia de visitas, Fabrício, que até aquele momento não havia recebido nenhum honorário, informou ao seu cliente que a partir daquele momento estava declinando do trabalho. O homem aceitou pacificamente, sem nenhum questionamento. Quando a sirene da prisão tocou anunciando o término da visita,  todos os familiares e amigos dos presos saíram da penitenciária. Entre eles um homem, de terno surrado e gravata desbotada, carregando uma pasta de plástico. Na manhã seguinte, quando os guardas fizeram  a contagem dos presos, constataram que faltava alguém. Ao se dirigirem para uma das celas, encontraram um corpo pendurado por uma corda, balançando como um pêndulo de relógio.
Reconheceram o corpo como sendo o de Fabrício.  Finalmente seu nome ocupou a primeira página dos jornais.
                       Do Livro DOIS EM CRISE – Editora All Print - Edison Borba

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