domingo, 14 de agosto de 2011

ALEMANHA

Era o ano de 1982. João Batista Figueiredo governava o Brasil, ainda sob a regência da ditadura militar. Neste período houve a criação do estado Rôndonia. Nas rádios explodia  Fuscão Preto, na voz de Almir Rogério.  O filme Pra Frente Brasil chegava às telas provocando questionamentos. O nosso futebol conseguia reunir um dos maiores elencos de atletas. Entre eles  Zico, Sócrates, Falcão, Éder, Junior, Leandro e Cerezo que davam a tônica da arte brasileira nos campos. As primeiras matérias jornalísticas, sobre AID’s, começavam a chegar ao nosso conhecimento. No cinema, o filme Carruagens de Fogo, ganhava o Oscar. O Flamengo conquistava o título de Campeão Brasileiro de Futebol. No teatro o sucesso de Lágrimas Amargas de Petra Von Kant, emocionava através de Fernanda Montenegro.  Foi nesse clima que eu, graças ao Serviço de Intercâmbio Acadêmico (DAAD), viajei para a Alemanha. Uma incrível aventura por  universidades, sabores, sons, povo, costumes e cultura. A cada cidade uma nova descoberta, um encantamento. Frankfurt, Stuttgart, Ulm, Munchen, Tuttlingen,  Saalburg,  Heidelberg, Hannover,  Bonn, Dusseldorf, Gottingen, Hambug e Helmstedt, cada uma com suas peculiaridades transformavam o sonho em realidade. Gente alegre, simpática e hospitaleira. Nas diferentes localidades o acolhimento era total. Até  que cheguei a Berlim. Diante de mim, o muro dividindo uma cidade. Berlim ou “Berlins”, o ocidental e o oriental. Uma barreira de concreto separava famílias, amigos e  amores. Complementando aquela vergonhosa obra, redes  eletrificadas, gradeamentos metálicos, torres de observação além de cães e policiais armados. Uma imagem assustadora pelo que simbolizada e pelas histórias que  guardava. Mortes e prisões dos que tentavam buscar a liberdade no lado ocidental. A viagem que até aquele momento tinha se traduzido em belas descobertas e aprendizagem colocava-me diante de um trágico episódio da história da humanidade. Era difícil assimilar que pessoas pudessem ficar separadas pela esquizofrenia de políticos, que sem nenhum escrúpulo cerceavam o direito de ir e vir dos cidadãos. Custei para assimilar aquelas imagens. Difícil atravessar as duas cidades e observar que entre elas havia grandes diferenças, traduzidas no sorriso e humor da população. De um lado a alegria contagiava os visitantes enquanto do outro uma tristeza contida deixava claro que os caminhos das guerras são árduos. De agosto de 1961 até agosto de 2011, foram  cinqüenta anos. O muro continua vivo nos corações dos que tiveram suas vidas divididas pelo monstro de concreto. Sua queda unificou mais do que uma nação, uniu pessoas, juntou famílias, reuniu amigos. Não podemos deixar que se apague da nossa memória este  símbolo da intransigência, prepotência e insanidade humana. Para mim, 1982, foi um ano inesquecível. Tive o privilégio de conviver e aprender com o povo alemão o verdadeiro sentido de amor a pátria.
Edison Borba


Nenhum comentário:

Postar um comentário