sexta-feira, 19 de agosto de 2011

UMA RUA UM LAR

Eles estão em toda parte: são crianças, adultos, homens e mulheres de diversas idades e origens. Podem ser encontrados nos parques, ruas e jardins. Dormem sob marquises, nos bancos de praça e nas calçadas. Embrulhados em jornais ou cobertos por panos velhos, podem ser vistos próximo às lixeiras e nas sarjetas.  Durante o dia cochilam ao sol ou andam em grupos. Mas, também podem ser observados vagando solitariamente. À noite é comum se juntarem  em torno de pequenas fogueiras, conversando e sonhando. Algumas vezes formam pares, ou se fazem acompanhar de um fiel cãozinho. Há os que possuem carrinhos abarrotados de quinquilharias. São riquezas acumuladas em seus caminhares pela vida. Não possuem agenda, não marcam hora para reuniões, não se preocupam com o leão do imposto de renda e nem ficam na expectativa da chegada de uma correspondência, são nômades. Não podemos confundi-los com marginais, ou usuários de drogas. Suas casas; não tem número, estão situadas em todas as ruas da cidade. Sobrevivem a cada dia. Suas refeições são variadas. Uma quentinha obtida com o dono de um bar. Um resto de comida encontrado naquele latão em frente ao prédio de luxo. Ou um salgadinho comprado, com a moeda descolada de algum bondoso cidadão. Sem planos de saúde, sobrevivem às chuvas, ventos e friagem. No verão, a praia é um bom lugar para ficar. Ar puro, comida farta, espaço para brincar. Não possuem  identidade, nem rosto e nem família. Documentos? Se algum dia tiveram estão perdidos em alguma lata de lixo. Provenientes de lares desfeitos, problemas financeiros ou uma enorme vontade de deixar de ser  e assumir outra identidade. Pacíficos, se deixam levar para depois voltar. Andam em círculos pela cidade, mantendo um roteiro. Podem ser vistos cuidando de suas roupas em algum chafariz da cidade. Aceitam por algum tempo a proteção e ajuda de grupos humanitários e religiosos, mas não estabelecem vínculos. Os moradores de rua são seres silenciosos, resistentes, nômades, solitários,  ajustados à sua condição e desajustados às nossas. Driblam a fome e a sede. As doenças e as indiferenças. Não possuem identidade. São invisíveis. Ninguém nota a sua presença. Não são eleitores. Não contam no censo, mesmo sem terem  perdido o senso. Estão na sociedade, mas não fazem parte dela. Acostumamo-nos, a cruzar com eles e a desviar o olhar do seu olhar e a evitar a sua vontade de voltar a amar.

Edison Borba

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