segunda-feira, 22 de agosto de 2011

NÃO PREJUDICOU NINGUÉM

Um pedreiro e um senador. Dois homens. Dois seres humanos. Dois brasileiros e um helicóptero. Ambos com prioridades. Malas, bagagens, traumatismo craniano e clavícula quebrada. Qual a diferença que pode haver entre objetos e um trabalhador? As malas, provavelmente são de couro legítimo. Material importado de alguma superloja do estrangeiro. O crânio e a clavícula são ossos brasileiros. Produto nacional de segunda categoria. Malas desse padrão existem poucas no mundo. Provavelmente, foram criadas por encomenda. Produto exclusivo não havendo outras iguais em todo o universo. Trabalhadores existem aos milhares. Tudo igual. Se um desaparecer, ninguém sentirá falta. São produtos fáceis de serem substituídos. Existe uma enorme variedade de cores e tamanhos. Alguns são capazes de ler e escrever outros apenas de obedecer. Bagagem é coisa séria. Nela (a bagagem) pode haver objetos de valor inestimável: ternos, gravatas, camisas, lenços, meias e cuecas de múltiplo uso. Trabalhador só serve para produzir, se quebrar, troca-se por outro  mais novo e em melhor estado de conservação. Na hierarquia da sociedade brasileira, um senador vale mais do que um trabalhador. Isto é, um senador ou até mesmo um vereador, são homens predestinados e abençoados que vieram ao planeta Terra para serem adorados. Os outros (nós os mortais) os escolhemos e elegemos. Os idolatramos e reverenciamos. Portanto, eles podem usar e abusar de tudo e de todos. Helicópteros, aviões, navios, automóveis e tudo o que voar ou correr são deles por direito constitucional. Passear numa ilha, seja ela Bananal ou Paquetá, é muito mais importante do que um hospital. Usar aeronave para combater o crime e socorrer emergências médicas é inadmissível. Garantir um final de semana feliz a um representante da nossa política é a verdadeira função dos helicópteros comprados com o suor dos trabalhadores. Ficamos sensibilizados em proporcionar alegria aos cansados operários do “Alvorada”. Clavícula quebrada, crânio com traumatismo, perna fraturada ou qualquer outro tipo de problema, pode esperar. Deixemos  sangrar mais um brasileiro, mas não o senador esperar. Não vamos fazer tempestade em copo d’água, afinal de contas, tudo acabou bem, as malas foram embarcadas, as bagagens transportadas a cabeça, provavelmente ficará sequelada, mas isso é de importância secundária e o fato “não prejudicou ninguém”.  

Edison Borba




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