quarta-feira, 17 de agosto de 2011

AVAREZA

A falta de generosidade, a mesquinhez e o excessivo e sórdido apego ao dinheiro, transforma seres humanos em avarentos. Esse tipo de comportamento chega ao extremo na história de Álvaro. Um homem comum  que tem a sua vida interrompida, graças ao seu excessivo apego ao dinheiro. Leia e tire as suas próprias conclusões. Álvaro, vítima ou vilão?

Libriano, do mês de setembro, Álvaro fazia jus a seu signo. Extremamente organizado e  cauteloso com suas finanças,  mantinha toda a  família amarrada aos seus caprichos. “Quanto custou? Por que não procurou mais barato? Esse mês não será possível! Vamos economizar!” Eram observações que ele fazia diariamente. Sua esposa estava sempre atenta para não sair dos “trilhos”, mantendo  a casa e os filhos dentro dos padrões exigidos pelo marido. Todos os dias  buscava nas feiras e mercados os artigos mais baratos. Em casa, colocava água no detergente e nos vidros de xampu para aumentar a durabilidade. Sua geladeira estava sempre repleta de  restos do almoço ou do jantar, que acabariam novamente na panela.Sempre que o pai não estava em casa, as crianças reclamavam com a mãe. Porém, ela sempre buscava uma forma para explicar o comportamento do  marido. Quando seus argumentos não eram aceitáveis,  apelava para o signo: “meninos, seu pai é um autêntico libriano. Vocês sabem como é esse negócio de signo, não há como mudar!” Certo mês, ao receber a conta da água, Álvaro notou um aumento considerável. Reuniu a família e, ignorando que estavam no verão e o aumento do consumo de água se devia provavelmente ao excesso de calor, decretou que todas as torneiras da casa receberiam um cadeado. Todas as chaves ficariam com ele. A partir daquele dia, a água seria liberada apenas  numa determinada hora. Nada de garrafas na geladeira, nada de torneiras abertas, nada de banhos demorados  nada de desperdícios. Tudo seria controlado. Cada litro, cada gota de água só sairia da torneira sob o seu comando. Apesar de contrariados, todos aceitaram pacificamente aquela  ordem absurda. Os filhos passaram a usar o banheiro do colégio e às vezes até o terreno baldio. Tudo isso para não gastar água  e também para evitar o terrível odor que se espalhava pela casa, já que as descargas só eram acionadas à noite, quando Álvaro voltava do trabalho. Ao chegar a casa Álvaro percebeu que esquecera todas as  chaves na gaveta do escritório em que trabalhava. Fazia um forte calor. Sua família o estava esperando para que pudessem abrir as torneiras. Quando Álvaro informou que esquecera suas chaves no escritório e que todos teriam que esperar, houve um descontentamento geral. Pela primeira vez, aquela família se rebelava contra as suas ordens. Todos falavam e gritavam, fazendo com que o tempo ficasse cada vez mais quente. O calor no interior da casa tornou-se insuportável. Todos suavam e gesticulavam num protesto uníssono. Diante daquele caos, Álvaro descontrolou-se, começou a tremer, sua voz falhou, empalideceu e colocou a mão no peito sentindo uma dor lancinante.  Sua mulher rapidamente pegou os comprimidos que ele tomava para controlar um possível infarto. Correu até a cozinha, pegou um copo e, olhando para a torneira trancada com um cadeado, voltou-se para o marido que morreu com as mãos estendidas para o copo vazio.
Do livro DOIS EM CRISE – Editora AllPrint – 2010 – Edison Borba

                                                                                           




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