segunda-feira, 15 de agosto de 2011

RESSACA

A morte do Joel  foi um choque brutal para a sua companheira. Ela perdia, não só um bom amante, como também um parceiro de grandes noitadas, com muita vodca, conhaque entre outras bebidinhas que ajudavam a alegrar os encontros. Morreu na madrugada de um domingo em pleno mês de janeiro. Por uma dessas ironias da vida, ele estava sóbrio. Nenhuma gota de álcool em suas veias. Foi  encontrado pela manhã, sentado no sofá, com a boca entreaberta como se estivesse querendo se comunicar. Em seu enterro, compareceram dois amigos de copo, um garçom e a sua fiel amiga. Apesar de haver entre eles um caso de amor e sexo, ambos não admitiam nada além de companheirismo e amizade. Sozinha em seu apartamento, após a cerimônia fúnebre, buscou consolo no som de velhas melodias e numa garrafa de gim. Após tantos anos juntos, ainda havia muito  sobre aquele homem a ser descoberto. O que os obituários iriam publicar sobre Joel? Era sempre atencioso, educado e tranquilamente suave em seus gestos. Romântico sem dizer poemas. Alegre, apesar do sorriso tímido. Elegante nas roupas simples, compradas em lojas baratas. Não acreditava em bancos, guardava seu dinheiro em casa, gastando à medida que precisava para as despesas diárias. Era um cara legal como poucos, tinha tudo que pode ser comprado, dinheiro não faltava. Esse era o seu homem. Tudo o que ela possuía, se concentrava nele. De qualquer maneira,  teria que continuar a viver naquele apartamento. O local não era luxuoso, mas estava repleto de recordações. Foi ali que tudo começou, ele paciente e carinhoso, soube como dissipar seus medos. A princípio se encontravam apenas uma vez por semana. Até que um dia ficaram juntos definitivamente. Ela sabia que conseguir uma noite de sono tranqüilo, a partir daquela data seria algo difícil. Não estava triste, apenas cansada. Muitas lembranças, boas lembranças, povoavam seus pensamentos. Certa vez, numa de suas viagens, sem destino, pararam num miserável hotel com paredes esburacadas. Dividiram o quarto com insetos e ruídos estranhos. Mas tudo isso, não lhes tirou a felicidade de compartilharem suas vidas. Aquela situação foi uma nova chance para que se conhecessem melhor. No mundo, não existem pessoas iguais a Joel. Capaz de surpreendê-la com flores ou então cantarolar uma melodia para que conseguisse dormir. Às vezes se comportava como um pai carinhoso, que cuida de sua garotinha. Era impossível esquecer as diversas experiências, vividas ao longo dos anos de camaradagem. Queria que ele estivesse ali, para que pudesse expressar seu sentimento, sua dor e o seu amor. Sabia que em pouco tempo, teria uma nova rotina. Ali, no seu esconderijo secreto, escreveria novos episódios de sua existência. Era como o dia seguinte de uma noite de bebedeiras: acordaria de ressaca, boca seca,   estômago doendo, cabeça vazia e um enorme arrependimento de não ter aproveitado aquela última dose de Martini, que ficara na taça de cristal.

Edison Borba

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