quinta-feira, 11 de agosto de 2011

BATOM NO ÔNIBUS

“Ele vai matar geral”,  frase escrita, com batom, no vidro da janela do ônibus 174, linha Central - Gávea, Rio de Janeiro, num dia qualquer do mês de junho de 2000. Esse mesmo, batom, minutos antes tinha servido para embelezar os lábios da mulher, que  perdeu a vida durante aquele terrível  acidente. Trabalhadores cansados retornam para seus lares após um dia de trabalho. Janaína fazia parte desse grupo de brasileiros, que viajavam com a sensação de dever cumprido. Chegar, jantar com a família, assistir a novela e reiniciar a jornada no dia seguinte. O batom, provavelmente voltaria a embelezar aquela trabalhadora.  De cores fortes, como o vermelho, ou suaves e com pouco brilho, esse produto, é amigo fiel das mulheres em todo o mundo. No cinema, Liz Taylor o tornou famoso ao escrever no espelho – “não me vendo”, no filme Disque Butterfield 8.  Após uma noite de amor, a bela garota de programa se recusa a receber dinheiro do seu parceiro. A mensagem no espelho traduziu o que os lábios não puderam revelar. O batom alertava: aquela mulher valia muito mais do que alguns dólares. Na janela do ônibus, o escrito era um aviso de que a vidas dos passageiros; nada valia. Trágico dia do mês de junho ficou na história do Rio de Janeiro, com manchas de sangue e de batom. O tempo levou as dores e as lágrimas, e quando as feridas já estavam cicatrizando, outro ônibus, repleto de trabalhadores é seqüestrado. Desta vez, não houve batom no vidro. Tiros, muitos tiros transformaram o coletivo,  Praça XV – Duque de Caxias no cenário púrpuro pelo sangue. Vinte pessoas foram feitas reféns por mais de uma hora numa incrível cena cinematográfica. Bandidos, reféns, policiais, tiros, feridos, gritos, sirenes ligadas, ambulâncias e curiosos completaram a cena numa das avenidas mais movimentadas da cidade. Um verdadeiro Bonnie e Clyde do século XXI com violência exacerbada,  assassinos aterrorizando trabalhadores indefesos e muita ação. Pneus furados, vidros quebrados, policiais se movimentando rapidamente e fuga de criminosos. Na cidade, que está começando a encontrar a paz,  Capones’s, tentam corroer a segurança da população através da venda e distribuição de drogas. Onde será o próximo ataque? Qual linha de ônibus entrará na lista dos agressores? Haverá reféns? Que os batons continuem apenas a embelezar os lábios de nossas mulheres e não sirvam para enviar trágicas mensagens, anunciando em vermelho a presença iminente da morte.

Edison Borba 






Nenhum comentário:

Postar um comentário