sábado, 6 de julho de 2013

UM ESTRANHO NO NINHO

         Um dia a gente acorda e percebe que depois de tantos anos morando no mesmo apartamento ou casa, ainda existem alguns “cantinhos” e “objetos” que não tivemos tempo de parar para admirar.
Com a vida corrida e a agenda sempre cheia de compromissos, compramos “coisas” como quadros, espelhos, poltronas, almofadas e tantos outros badulaques, mas que só os admiramos nas vitrines das lojas. Uma vez levados para nossos lares, e colocados em seus devidos lugares, nunca mais paramos para admirá-los.
Hoje estou propondo fazermos uma excursão pelo local em que moramos. Para começar, o melhor é sairmos até a rua e após alguns minutos, nos determos olhando para o prédio. Qual é a cor da nossa casa ou apartamento? De que lado da rua está construído? Existem árvores próximas? Como é a nossa rua?
Após essa observação e reflexão é hora de entrar. O elevador, o corredor e a nossa porta. Nada de andar apressadamente, observe a entrada da sua morada. Pense como uma visita, que veio pela primeira vez àquele local. Que tipo de emoção está acontecendo?
Chave na fechadura, porta aberta e surge na nossa frente um lar, o nosso lar. Deixe a porta aberta e observe. Deixe que seus olhos procurem se familiarizar com o ambiente. Entre devagar. Feche a porta e caminhe observando os quadros, os móveis, os tapetes, as cortinas e tudo o que existe ali e, faz parte da sua vida. Caminhe pelos cômodos. Passeie pelo seu lar como se estivesse numa excursão. Devagar, com calma, descubra detalhes que você não costuma observar. Abra um móvel e retire algo. Aquele copo que nunca é usado. Aquela bandeja ou quem sabe uma toalha que está há anos na gaveta esperando uma ocasião para ser colocada na mesa.
Quantos objetos. Quanta coisa. Quantas lembranças.
Descubra um presente, um “mimo” recebido de uma pessoa amada e tente se lembrar do momento em você o recebeu.
Nossas músicas! Ah! As músicas! Escolha um CD e ouça atentamente. Pegue aquela almofada e vá para o sofá. Ouça e veja o quanto de você existe naquele espaço. Tente lembrar, das muitas pessoas que já estiveram ali. Ouça os risos e as vozes. Se houve lamentos e lágrimas, tente não relembrar. Essa é uma situação de paz.
Continue seu passeio. O quarto é sempre um local de segredos. A cama, o armário, um espelho e recordações. Quantas noites de sono pesado, corpo cansado pelo trabalho diário. Pesadelos e insônias também aconteceram. Noites mal dormidas e as olheiras. Mas também, noites de amor. Intermináveis como nossos sonhos. Quartos guardam silenciosamente muitas lembranças. Nosso quarto, grande ou pequeno, luxuoso ou simples é ele que nos acolhe e nos dá aconchego. Observe cada objeto que você colocou nesse ambiente. O que levou você a escolher aquela cortina, a colcha ou o abajur? O retrato sobre a cômoda! É muito especial ter a foto de alguém nesse local tão íntimo.
Nossa casa, nosso lar, nossa morada. Entramos e saímos diariamente sem termos noção do que possuímos. Acumulamos objetos até que se tornem obsoletos, perdem as cores e os trocamos por outros que terão o mesmo destino.
E assim vamos vivendo, passando o tempo, buscando nas ruas e nas viagens, muito do que já existe em nossos lares.
O local em que habito, tem encantos e tem recantos que permanecem intocáveis, até um dia que sentimos a sensação de que podemos perdê-los. Nesse momento bate uma sensação de que somos um estranho naquele ninho e um vazio enorme entra em nosso peito. Uma grande vontade de nos agarrarmos a tudo que ali existe, como se dessa forma pudéssemos viver para sempre.
Edison Borba

 

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