Tenho acompanhado quase que diariamente, um contraste
entre o que aparece nas propagandas políticas: os que estão deixando o
poder apresentam uma série de benfeitorias, principalmente na área da educação, enquanto que paralelamente,
os que estão almejando ocupar os palácios, contrariando seus oponentes
apresentam uma outra face.
Enquanto isso, em minha memória, desfila uma
infinidade de crianças, jovens e até adultos, que passaram por minha vida.
Desde as classes de quinta série até o ensino universitário, eu atuei
como professor, numa jornada que teve início nos anos sessenta e continua
até hoje.
Lembro-me do rosto e do
sonho dos meus alunos. Suas vozes ainda ressoam em minha cabeça, os
alegres recreios, as perguntas surgidas durante as aulas, e muitas vezes uma
gargalhada coletiva que tomava conta de todos. Os dias de prova, os medos e
apreensões com a chegada do final de ano. As conversas com os familiares e a
divisão de tarefas, que permitiam a escola e seus trabalhadores, unir forças
com as comunidades.
Durante todo esse tempo que trabalho na educação, transmito para meus alunos imagem de otimismo quanto ao futuro, que vale a pena estudar e lutar, pois o nosso
país tem potenciais para ser uma nação respeitada pelo mundo. Não fujo de
comentar e analisar com eles as dificuldades, e as barreiras que travamos
diariamente, porém tento não ser pessimista. Meus alunos precisam sonhar e acreditar que seus sonhos
poderão ser realizados. Aprendi que podemos ser otimistas, sem perdermos a
noção da realidade que nos cerca.
Afirmo, sem nenhuma dúvida que meus alunos são tão capazes quanto
aos outros meninos e meninas das nações mais ricas e poderosas do
mundo. O potencial de aprendizagem deles é de excelência, são criativos e
habilidosos. Nossos estudantes poderiam transformar esse país numa grande e
poderosa nação, não fosse o descaso com que são tratados pelos senhores que
cuidam da política educacional brasileira.
Infelizmente nosso destino continua nas mãos dos que
destroem sem piedade, os cérebros que poderiam gerar riquezas. Corruptos ocupam
lugares de destaque e confeccionam leis e regras para o nosso ensino. Milhões de reais são transferidos
para contas no exterior, deixando nossos estudantes, sentados no chão, com merenda de
má qualidade, professores sem condições de atuar de forma digna. Estamos
março de 2014, e várias escolas ainda não iniciaram seus
trabalhos. Milhares de estudantes aguardam por transporte, reformas em prédios,
material escolar entre outros direitos. Professores lutam contra
as adversidades e formam uma coluna de resistência, na tentativa de não deixar o pior
ficar péssimo.
Enquanto, os que estão deixando o poder mostram nas
propagandas algumas Unidades de Ensino que receberam maquiagem, uma grande
parte continua abandonada à própria sorte. Infelizmente, os que estão se propondo a
ocupar os cargos e usam as imagens da miséria, como plataforma política continuará a manter o
triste quadro da educação no Brasil. Faz parte de uma mentalidade falsamente
democrática, manter a ignorância e o analfabetismo social. Povo enfraquecido,
povo pouco informado é povo manobrado com maior facilidade.
Passados tantos anos, continuamos uma nação desumanamente
pobre, quando comparada à maioria dos países do mundo.
Após tantos anos lecionando e levando para meus alunos
mensagens de otimismo, aliadas à vontade de lutar e vencer. Após tanto tempo
falando e demonstrando que moral e ética são os melhores cartões de visita do
ser humano, e temos que confiar na força deste país, tenho receio de ter enganado meus, alunos e alunas que
acreditaram nas minhas palavras e que talvez estejam decepcionados.
Porém, quando me dou conta que sou professor, e como tal,
não posso me curvar, ganho forças e renasço das cinzas, para continuar
na minha profissão. Sou trabalhador brasileiro, e como todo cidadão livre, tenho o
direito de sonhar e lutar pelo que acredito, e continuar acreditando que um dia
haverá grandes mudanças nesta Terra, e as nossas crianças e jovens irão se orgulhar de
ter nascido no Brasil!
Eu acredito! Eu ainda acredito! Não sei por quanto
tempo ...
Edison Borba
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