Quando
Dédalo construiu o seu labirinto, ele o fez para proteger o Minotauro. Um percurso, sabiamente desenhado,
que tornava quase impossível, sair daquele complicado local.
Os
arquitetos e engenheiros que planejaram labirintos,
o fizeram para tornar a vida dos visitantes um verdadeiro inferno. Sinuosos,
milimetricamente organizados, obrigava quem os visitasse, dar voltas e voltas, voltando sempre ao mesmo
lugar. A situação dentro de um labirinto, é enlouquecedora, quanto mais se quer
sair, mais perdido ficamos. Esta complexidade matemática causa em que estiver
buscando a saída, angústia, medo, pavor, sensação de “sufocamento” e desespero.
Os
livros de história, os romances, e até muitos filmes já ilustraram situações vividas
em labirintos. Heróis salvando belas princesas, lutas repletas de mistério,
bandidos refugiados nos corredores labirínticos e muita ação e emoção.
Aqui
no Rio de Janeiro, em pleno século XXI, existem alguns labirintos de
complexidade muito maior do que o construído por Dédalo. Espaços habitados por centenas de pessoas, onde não
se tem noção de princípio e nem de fim. Não há regras e nem parâmetros, tudo
foi construído, sem sentido, mas que passou a dar “sentido” a uma situação,
quase impossível de controlar. Algumas comunidades aqui do Rio de Janeiro, como
Rocinha e Alemão, possuem uma geografia indecifrável. Becos, ruelas, casas,
barracos, prédios, vielas, comércio, gente, muita gente, postes, fios,
crianças, lajes, vozes, igrejas, música, trabalhadores, senhoras, jovens uma
variedade difícil de entender. Toda essa
Babel poderia ser até algo interessante, funcionando como um grande mercado,
não fosse a ocupação por traficantes e malfeitores, que perceberam que aquela intrincada arquitetura “labiríntica”, seria perfeita
para as suas ações. Nem Dédalo pensaria
em algo melhor, e eles como Minotauros passaram a viver em segurança entre as
sinuosidades do labirinto urbano.
Hoje,
após muitos e graves problemas, as autoridades “resolveram” ocupar e desvendar
os segredos dos labirintos da cidade do Rio de Janeiro. Uma situação difícil de resolver, na medida em que o
problema não é apenas a ocupação do local por construções, ela envolve cultura,
educação, hábitos, visão de mundo, valores e muitos outros fatores difíceis de
entender. É, necessário, muita reflexão antes da ação. Invadir, colocar
policiais, ocupar com a força, não é o melhor caminho para se chegar ao Minotauro e caminhar pelos labirintos sociais,
que transformaram-se em um nó na
sociedade brasileira. Como entrar, circular, modificar e sair ileso deste mundo
totalmente novo, por aqueles que não fazem parte daquela comunidade / cidade.
Há
anos, trava-se uma luta sem fim. De um lado o estado e seus policiais, do outro
estão os traficantes e no meio os habitantes. Tragédias acontecem nos labirintos,
que são bem conhecidos pelos que o habitam e uma armadilha para os que tentam
desvendá-lo. Está longe, este confronto terminar. Ainda existe uma longa
caminhada labirinto à dentro.
Tem
que ser uma jornada lenta e vigorosa, levando saúde, alegria, segurança,
saneamento, cultura e educação. Por enquanto, estamos acompanhando apenas as
ocupações, as intervenções, quanto à pacificação ainda vai demorar.
É de conhecimento público que, enquanto as
necessidades básicas da população, não forem satisfeitas, os labirintos serão impenetráveis e os “Minotauros” continuarão
amedrontando o povo.
Edison Borba
Nenhum comentário:
Postar um comentário