segunda-feira, 24 de março de 2014

PERIGOSOS LABIRINTOS.

          Quando Dédalo construiu o seu labirinto, ele o fez para proteger o  Minotauro. Um percurso, sabiamente desenhado, que tornava quase impossível, sair daquele complicado local.
Os arquitetos e engenheiros que planejaram  labirintos, o fizeram para tornar a vida dos visitantes um verdadeiro inferno. Sinuosos, milimetricamente organizados, obrigava quem os visitasse,  dar voltas e voltas, voltando sempre ao mesmo lugar. A situação dentro de um labirinto, é enlouquecedora, quanto mais se quer sair, mais perdido ficamos. Esta complexidade matemática causa em que estiver buscando a saída, angústia, medo, pavor, sensação de “sufocamento” e desespero.

Os livros de história, os romances, e até muitos filmes já ilustraram situações vividas em labirintos. Heróis salvando belas princesas, lutas repletas de mistério, bandidos refugiados nos corredores labirínticos e muita ação e emoção. 
Aqui no Rio de Janeiro, em pleno século XXI, existem alguns labirintos de complexidade muito maior do que o construído por Dédalo. Espaços  habitados por centenas de pessoas, onde não se tem noção de princípio e nem de fim. Não há regras e nem parâmetros, tudo foi construído, sem sentido, mas que passou a dar “sentido” a uma situação, quase impossível de controlar. Algumas comunidades aqui do Rio de Janeiro, como Rocinha e Alemão, possuem uma geografia indecifrável. Becos, ruelas, casas, barracos, prédios, vielas, comércio, gente, muita gente, postes, fios, crianças, lajes, vozes, igrejas, música, trabalhadores, senhoras, jovens uma variedade difícil de entender. Toda  essa Babel poderia ser até algo interessante, funcionando como um grande mercado, não fosse a ocupação por traficantes e malfeitores, que perceberam que aquela  intrincada arquitetura “labiríntica”, seria perfeita para as suas ações. Nem  Dédalo pensaria em algo melhor, e eles como Minotauros passaram a viver em segurança entre as sinuosidades do labirinto urbano.
Hoje, após muitos e graves problemas, as autoridades “resolveram” ocupar e desvendar os segredos dos labirintos da cidade do Rio de Janeiro. Uma situação  difícil de resolver, na medida em que o problema não é apenas a ocupação do local por construções, ela envolve cultura, educação, hábitos, visão de mundo, valores e muitos outros fatores difíceis de entender. É, necessário, muita reflexão antes da ação. Invadir, colocar policiais, ocupar com a força, não é o melhor caminho para se chegar ao  Minotauro e caminhar pelos labirintos sociais, que transformaram-se em  um nó na sociedade brasileira. Como entrar, circular, modificar e sair ileso deste mundo totalmente novo, por aqueles que não fazem parte daquela comunidade / cidade.
Há anos, trava-se uma luta sem fim. De um lado o estado e seus policiais, do outro estão os traficantes e no meio os habitantes. Tragédias acontecem nos labirintos, que são bem conhecidos pelos que o habitam e uma armadilha para os que tentam desvendá-lo. Está longe, este confronto terminar. Ainda existe uma longa caminhada labirinto à dentro.
Tem que ser uma jornada lenta e vigorosa, levando saúde, alegria, segurança, saneamento, cultura e educação. Por enquanto, estamos acompanhando apenas as ocupações, as intervenções, quanto à pacificação ainda vai demorar.
 É de conhecimento público que, enquanto as necessidades básicas da população, não forem satisfeitas, os labirintos serão  impenetráveis e os “Minotauros” continuarão amedrontando o povo.
Edison Borba

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