domingo, 9 de março de 2014

OS OSSOS DO REI

         Certo dia, um pai levou seu filho, um garoto de oito anos, para visitar um cemitério. O homem queria mostrar para o menino, o local, conhecido por muitos como “campo santo”, para que ele, através deste contato pudesse começar a entender o valor da vida.
Caminhando pelas alamedas, ele chamava a atenção do filho, para as obras de arte, traduzidas sob a forma de estátuas em mármore, os grandiosos mausoléus e as tumbas de diversas categorias. Havia, sem dúvida, naquela visita uma aula sobre diferentes classes sociais. Ele também mostrava para o garotinho, as inscrições que enalteciam a pessoa sepultada, dizeres como “ao meu querido amor”, “aqui está a minha mãezinha”, “um grande e inesquecível homem” e muitas outras frases mais ou menos eloquentes sobre o falecido.
O menino manteve-se em silêncio, porém atento às explicações do seu pai. Ouvia, pensava e nada perguntava como se estivesse apreendendo tudo que escutava.
A visita continuou com o pai sempre atento e buscando dar ao seu filho todas as explicações possíveis inclusive sobre símbolos religiosos. Muitas cruzes, imagens de santos, representações de anjos, Bíblias em bronze, frases de cunho religioso, velas e tantos outros elementos que deixavam um grande indício, que aquele lugar estava impregnado de religiosidade, crenças e misticismo.
Os dois caminharam até o local chamado de ossuário. Parados, diante de uma grande quantidade de ossos, o menino, falou pela primeira vez: “-Pai, o que é isto?”
Com tranquilidade o homem, explicou que era os ossos de muitas pessoas, que ao morrerem, tiveram seus corpos enterrados naquele cemitério. Após algum tempo, as covas são abertas e o que restou, é retirado, para que haja espaço para outros enterros. Naquele momento, o homem, chamou a atenção do filho para sobre  a  finitude da vida e também para o tempo que os corpos levam para se decompor.
O menino, mais uma vez, rompeu o silêncio e perguntou: “Papai, aprendi nas aulas do colégio, que neste cemitério, foi enterrado um famoso rei, que governou nosso país por muitos anos. Quais são os ossos desse rei?”
Desta vez, o bom homem titubeou, pigarreou e simplesmente disse: “Não sei!”
Edison Borba
 

 

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