segunda-feira, 13 de março de 2017

MERGULHO (um triste conto)

Estou deitado no chão, mas não estou dormindo. Mergulhado num estado de torpor físico e mental, flutuo no mundo “alucinógeno” das drogas.
Sonho com minha mãe na janela acenando pra mim. Corro pelo jardim, me escondendo atrás das árvores.
Fugindo do seu olhar atento, um dia absorvi uma pequena porção mágica que me encantou. Descobri um mundo novo, encantado e colorido. Como Alice, conheci o País das Maravilhas. Montei num cavalo alado. Suas asas ...de cristal cintilavam sob o brilho do sol. Colhi morangos, amoras e rolei no verde gramado abraçado em meu cachorro. Viajei até a montanha das neves eternas. Fui esquimó, deslizando em um trenó, puxado pelas renas do Natal. Uma viagem incrível, longe do mundinho onde sempre vivi.
Ninguém para me dizer: - não pode! – não é permitido! Estou livre, completamente livre! Agora navego num barquinho de papel, descendo pelas águas turbulentas de um rio, sinto-me herói. Sou invencível. Sou poderoso.
Os adultos não sabem o quanto os jovens precisam de liberdade. Não tenho receio. Voando, atravesso as ruas da minha cidade. Entre os edifícios faço cambalhotas e subindo pelas paredes sou o Homem Aranha.
Não tenho vergonha e nem vou pedir desculpas, estou liberto. Sou um colibri, voando entre as flores de um lindo jardim. Sou coelho e caçador. Sou o quero ser. Sou o que me fizeram ser.
Não sou careta, estou numa boa, no mundo da droga. Meu corpo treme e o suor escorre pelo meu rosto. Meus pensamentos estão confusos e uma nuvem negra paira sobre a minha cabeça. Vejo minha mãe acenando pela janela. Tento alcançar sua mão, mas não consigo. Estou sufocando.
O “admirável mundo novo” se esvaziou. Estou sozinho. Minha visão é confusa e não consigo distinguir as imagens que dançam ao meu redor. Meu corpo queima. Não consigo respirar. Grito desesperado. Minha voz está presa em minha garganta. Quero brincar no jardim da minha casa. Preciso dos meus amigos. Sinto falta da escola. Vejo minha mãe suplicando para eu voltar. Estou tentando, mas não consigo.
Aquela mágica viagem transformou-se em pesadelo. Tento afastar os maus espíritos, mas eles estão agarrados em mim. Imagens perturbadoras circulam em meu corpo levadas pelo meu sangue. Minha vitalidade diminui. Estou me afogando no mundo das porções mágicas. Já não sinto mais dor.
Aos poucos a excitação diminui. Meu corpo para de tremer. Estou calmo. Estou dormindo.
Coberto por negro véu, vejo no rosto de minha mãe, uma lágrima.
****** Edison Borba******
 

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