sexta-feira, 3 de março de 2017

O CASARÃO - Um conto Carnavalesco!

Durante os dias de carnaval, todas as janelas daquela grande casa ficam abertas. Na rua uma multidão se agita, cantando e dançando freneticamente. Máscaras e fantasias emprestam um confuso colorido à multidão enlouquecida que se espreme naquela estreita rua de ladeira.
Aquele aglomerado humano é ao mesmo tempo algo repulsivo e atrativo. Um frenesi de corpos suados exalando odores impossíveis de serem identificados é ao mesmo tempo uma aberr...ação e um fascínio.
As janelas do casarão, abertas para o mundo, parecem acolher todo aquele povo. Homens e mulheres cobertos de poeira bailam sensualmente, sem preocupações nem preconceitos. As classes sociais, democraticamente abraçadas formam uma compacta massa embriagada pelo som dos tambores e o excesso de álcool, que ajuda a liberar os mais profundos instintos.
As janelas do casarão observam atentamente aquela anarquia “momesca”. São olhos atentos como um farol que direciona um navio para longe dos rochedos.
Difícil descrever um espetáculo em que a plateia e o palco se misturam, não havendo elementos que possam distingui-los.
Como definir uma festa sagrada e profana, coletiva e individual, onde cada um é único na encenação do espetáculo.
Mesmo quando abraçados e misturados, a individualidade é clara, cada personagem se diverte a seu modo. O outro, é apenas o outro, um coadjuvante, mais um componente da grande cena.
Em meio a tudo isso, silenciosamente, aquele prédio mantém a sua austeridade, não perdendo a sua dignidade, mesmo quando é maculada por dejetos, que os foliões teimam derramar em suas paredes.
O que parecia não ter fim, aos poucos perde o encanto. O cansaço domina corpos cambaleantes, que vagarosamente, se afastam da cena, deixando a rua vazia e silenciosa. Aos poucos o silêncio ocupa todo o espaço, não se ouve mais risos, vozes e cantorias apenas o vento se faz ouvir entre as folhas dos arvoredos.
Confetes, serpentinas, pedaços de vida entranhados em restos de fantasias se espalham por todos os cantos. Apenas o casarão permanece reinando soberanamente sobre todos aqueles destroços.
Lentamente as suas janelas se fecham, para serem reabertas num próximo carnaval.
Edison Borba
 

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