sábado, 4 de março de 2017

O CANTAR FEMININO




 Lembro da voz doce e suave da minha mãe cantarolando para eu dormir. Em seus braços, corpo repleto de pequenas feridas – varíola. Todos foram retirados de casa e apenas nós dois ficamos na penumbra de um quarto. Aos cinco anos, fiz o primeiro contato consciente com a dor, e também foi neste momento que o oposto se fez presente ao som da voz doce e meiga, daquela mulher forte, que eu sei; chorava ao me acalentar.
Nos momentos de repouso de mamãe, eram os braç
os de Maria, mulher parteira de pele negra e voz com textura de veludo é que me amparavam. Posso afirmar que o veludo, era azul, pois eu conseguia sentir seu toque sobre minha pele e perceber sua cor.
O cantar de minha mãe (dona Zefa) e o da parteira dona Maria, foram doces remédios que milagrosamente ajudaram-me a suportar o tormento de estar com o corpo transformado numa enorme chaga.
Os anos levaram o sentimento das dores, mas ainda trago em mim, o som dos cantares das mágicas mulheres que me acalentaram com suas vozes.

 Edison Borba – uma doce homenagem a duas grandes mulheres que me ajudaram a viver!

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