terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

UMA CÂMERA NA MÃO

                No ano de 2011, publiquei em meu livro COMPLEXO DE VIÚVA, uma crônica sobre a morte de um cinegrafista, ocorrida durante um confronto entre policiais e traficantes. Morte que até hoje não foi devidamente solucionada. Na ocasião, o crime emocionou a todos e falou-se em providências contra a violência no Rio de Janeiro, mas até hoje a sociedade sobrevive entre tiros, balas e foguetes. Justiceiros, traficantes, milicianos e baderneiros ocupam as ruas da cidade infernizando a população e assassinando trabalhadores, como aconteceu com o cinegrafista Santiago Ilídio Andrade.
                Infelizmente, após alguns anos, uma situação semelhante mobiliza o país. Mais uma vez a imprensa, o jornalismo, a comunicação é atingida mortalmente, ferindo a democracia.
                Vejam abaixo o texto, que está nas páginas 84 e 85 do livro citado.
                É desalentador publicar algo que poderia ser apenas uma página de livro, esquecido numa prateleira de uma estante qualquer.
                Edison Borba
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“Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça!” - Glauber Rocha.
Uma câmera na mão, muitas idéias na cabeça, uma vida para manter, uma família para sustentar!” –  Gelson Domingos da Silva.
Cinegrafista, 46 anos, profissional de excelência, acostumado a cobrir situações de risco, Gelson, juntamente com seu amigo Paulo Garritano, recebeu menção honrosa na 32ª edição do Prêmio Vladimir Herzog, pelo documentário sobre pistolagem no nordeste.
Homem de ação sabia como ninguém para onde posicionar sua câmera para obter o melhor ângulo da reportagem.
Diferente de Glauber esse outro artista da arte de filmar, cujo nome coincidentemente também começa com a letra g, trabalhava a partir da realidade, transformando-a em filme. O Rocha, ao contrário, usava a ficção, transformando-a em realidade. Nas telas, os filmes de Glauber eram tão verdadeiros, que os senhores ditadores se sentiam ameaçados com a sua arte. “Terra em Transe”, “Deus e o Diabo na Terra do Sol” e o “Dragão da Maldade” continuam atualíssimos para os dias do ano de 2011, do século XXI.
Nossa Terra continua sob a ditadura de dragões da máfia cujas maldades estão sendo muito difíceis de ser dominadas. Diariamente, convivemos com a luta entre o bem e o mal. O Santo Guerreiro, protetor da terra do sol, está com dificuldades de conseguir amansar essa terrível fera.
E foi para documentar essa luta, num local conhecido como Antares, nome de uma estrela gigante e vermelha da constelação de Scorpius, uma das mais brilhantes do céu noturno, que o guerreiro Gelson, com sua câmera no ombro, tombou atingido pelo inimigo. Filmando uma história verdadeira, onde bandidos são cruéis e os mocinhos, lutam em desigualdade de condições num filme que ainda está muito longe de acabar. Gelson caiu em solo de Santa Cruz sob a luz de Antares. Subiu aos céus, com sua câmera, registrando a vida, o amor, a felicidade, a honra e a ética.
Nas noites estreladas, quando olharmos para o céu, provavelmente estaremos sendo flagrados pela câmera desse cinegrafista que continuará o seu trabalho
Os sonhos não morrem. As ideias e os ideais sobrevivem a todos os tiros de todos os fuzis. Enquanto houver homens como Glauber e Gelson o dragão da maldade não vencerá o santo guerreiro!
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Livro: “Complexo de Viúva e outras crônicas” – Editora All Print / 2011
Edison Borba
 

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