No ano de 2011,
publiquei em meu livro COMPLEXO DE VIÚVA, uma crônica sobre a morte de um
cinegrafista, ocorrida durante um confronto entre policiais e traficantes. Morte
que até hoje não foi devidamente solucionada. Na ocasião, o crime emocionou a
todos e falou-se em providências contra a violência no Rio de Janeiro, mas até
hoje a sociedade sobrevive entre tiros, balas e foguetes. Justiceiros,
traficantes, milicianos e baderneiros ocupam as ruas da cidade infernizando a população
e assassinando trabalhadores, como aconteceu com o cinegrafista Santiago Ilídio
Andrade.
Infelizmente,
após alguns anos, uma situação semelhante mobiliza o país. Mais uma vez a
imprensa, o jornalismo, a comunicação é atingida mortalmente, ferindo a
democracia.
Vejam abaixo o
texto, que está nas páginas 84 e 85 do livro citado.
É desalentador
publicar algo que poderia ser apenas uma página de livro, esquecido numa
prateleira de uma estante qualquer.
Edison Borba
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“Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça!” - Glauber Rocha.
“Uma câmera na mão,
muitas idéias na cabeça, uma vida para manter, uma família para sustentar!” – Gelson Domingos da Silva.
Cinegrafista, 46 anos, profissional de excelência, acostumado a
cobrir situações de risco, Gelson, juntamente com seu amigo Paulo Garritano,
recebeu menção honrosa na 32ª edição do Prêmio Vladimir Herzog, pelo
documentário sobre pistolagem no nordeste.
Homem de ação sabia como ninguém para onde posicionar sua câmera
para obter o melhor ângulo da reportagem.
Diferente de Glauber esse outro artista da arte de filmar, cujo
nome coincidentemente também começa com a letra g, trabalhava a partir da
realidade, transformando-a em filme. O Rocha, ao contrário, usava a ficção,
transformando-a em realidade. Nas telas, os filmes de Glauber eram tão
verdadeiros, que os senhores ditadores se sentiam ameaçados com a sua arte.
“Terra em Transe”, “Deus e o Diabo na Terra do Sol” e o “Dragão da Maldade”
continuam atualíssimos para os dias do ano de 2011, do século XXI.
Nossa Terra continua sob a ditadura de dragões da máfia cujas
maldades estão sendo muito difíceis de ser dominadas. Diariamente, convivemos
com a luta entre o bem e o mal. O Santo Guerreiro, protetor da terra do sol,
está com dificuldades de conseguir amansar essa terrível fera.
E foi para documentar essa luta, num local conhecido como Antares,
nome de uma estrela gigante e vermelha da constelação de Scorpius, uma das mais
brilhantes do céu noturno, que o guerreiro Gelson, com sua câmera no ombro,
tombou atingido pelo inimigo. Filmando uma história verdadeira, onde bandidos
são cruéis e os mocinhos, lutam em desigualdade de condições num filme que
ainda está muito longe de acabar. Gelson caiu em solo de Santa Cruz sob a luz de
Antares. Subiu aos céus, com sua câmera, registrando a vida, o amor, a
felicidade, a honra e a ética.
Nas noites estreladas, quando olharmos para o céu, provavelmente
estaremos sendo flagrados pela câmera desse cinegrafista que continuará o seu
trabalho
Os sonhos não morrem. As ideias e os ideais sobrevivem a todos os
tiros de todos os fuzis. Enquanto houver homens como Glauber e Gelson o dragão
da maldade não vencerá o santo guerreiro!
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Livro: “Complexo de Viúva e outras
crônicas” – Editora All Print / 2011
Edison Borba
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