domingo, 8 de maio de 2016

A ESCADARIA E A REZA DE MÃE

 
 
 
 
Subindo de joelhos as escadarias da igreja da Penha, a velha senhora, paga a promessa. Seu filho caçula, pintor por profissão, caiu da escada enquanto renovava as cores do teto do salão de festas de um luxuoso clube. Antes de ser levado para o hospital, ainda no chão, olhou para seu trabalho e deslumbrou-se com a beleza do colorido e a profusão de cores que ele havia conseguido criar. Linda imagem registrada em sua mente de trabalhador.
A velha se...
nhora sempre sonhou que seus quatro filhos subissem na vida.
Quis o destino que sua única filha, tentando subir, acabou descendo. Escolheu as escadarias da fama, aquela com degraus luminosos e tapete vermelho. Seu talento não foi suficiente para perceber que a escada era falsa e que para subir havia que conceder favores. Hoje sobe e desce as escadarias de um pequeno hotel na zona boêmia da cidade. Não há luzes nem tapetes, apenas o vai-e-vem do amor remunerado. Sua mãe nunca mais a viu pessoalmente, sua filha tem vergonha do seu tipo de vida. Que pena!
Seu filho mais velho soube ir devagar. Começou trabalhando numa oficina e hoje é gerente. Aprendeu a agir com cautela, subindo um degrau de cada vez. Parava para analisar cada passo. Pisava firme e só avançava quando se sentia pronto. Chegou ao topo, está seguro. Sobe as escadas do prédio onde trabalha; tranquilo e de cabeça erguida. É um vitorioso e não se lembra mais de sua mãe.
O segundo filho, que nasceu antes da menina, agarrou-se no corrimão da vida. Foi se apoiando em amigos, muitas vezes, empurrando-os para degraus mais baixos, e foi dessa maneiro ele que conseguiu sucesso. Porém, sente-se inseguro. Sabe que não venceu por méritos. E mesmo estando quase no topo, ali não é o seu lugar. Está sempre com medo de cair. Percebeu que usar os companheiros como degraus, é subir sem competência. Tornou-se um homem fraco sempre precisando de apoio. Não consegue criar, inventar e se movimentar. Está parado num patamar da escada tentando não despencar e também sente vergonha de sua mãe, pelo que fez e pelo que ela ainda é, uma simples mulher.
E a velha senhora continua subindo os 365 degraus, talhados na pedra, cada um representando um dia do ano, dos muitos que ela já viveu. Joelhos feridos e muita fé ela reza por seu filho, o pintor, que caiu da escada. Olhai por ele Senhora Nossa da Penha! Os outros tiveram seus momentos e suas escadas. O que fizeram com elas é algo que só a eles pertence. Salve o meu menino caçula, aquele que estava no alto de uma escada de madeira, mãos ocupadas, trabalhando o teto de um luxuoso ambiente. Quando seu trabalho terminar e tudo ficar colorido, jamais poderá admirar, a sua obra, pois nunca será convidado a entrar naquele rico lugar.
Este é meu filho tão querido como os outros três, porém o único de quem eu recebo abraços e posso contar com seu braço para apoiar-me na longa subida desta escadaria!

Edison Borba

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