Anos setenta, eu professor de uma escola de meninas no bairro da Penha. Turmas com média de 45 alunas por sala, na época considerada escola de excelência.
Com a minha pouca experiênciaca, driblava da melhor forma possível, o fato de ser um dos poucos professores num oceano feminino.
Certa tarde, ao entrar numa sala, fui surpreendido com grande desenho (grande mesmo) ocupando praticamente todo o quadro de giz, de um órgão sexual... masculino. Além do aspecto anatômico, em torno da obra, haviam complementos e adornos.
Fiz um grande esforço para não perder o equilíbrio, pois a turma estava aguardando a minha reação. Entrei vagarosamente. Coloquei o material sobre a mesa, fiz a chamada e iniciei a aula sem demonstrar nenhuma reação.
Durante a aula uma aluna levantou-se e sem que eu pedisse limpou o quadro negro. Eu agradeci e continuei com o meu trabalho, “fingindo” não ter ficado “chocado” com a situação.
A mesma aluna que limpou o quadro, interrompeu minha fala e pediu desculpas em nome das colegas e falou sobre a vergonha que elas passaram.
Passamos então a analisar e refletir sobre “a vergonha dos outros e a nossa vergonha”.
Na realidade, o feitiço virou contra o feiticeiro. O que seria para causar-me vergonha, envergonhou a turma. Creio que todos nós tiramos uma boa lição do acontecido. Pensar antes de fazer; qual o objetivo daquele feito; quem seria verdadeiramente atingido essas e outras questões foram conversadas e creio que até hoje essa aula tenha ficado marcada na vida de todas as alunas como ficou na minha.
Mais um fato pedagógico entre os muitos que eu vivi desde 1968, quando iniciei minha vida como profissional da educação.
De cada um deles ficou uma lição, um aprendizado e muitas reflexões.
Edison Borba
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