sexta-feira, 31 de outubro de 2014

O MUNDO MÁGICO DAS PALAVRAS

Lembro perfeitamente bem, do dia em que ouvi pela primeira vez pleonasmo e anacoluto. Foi paixão à primeira vista. Lindas palavras. Imponentes  e  sérias elas ficaram na minha cabeça, após a aula de Língua Portuguesa. Sai do colégio pensando  como seria magnífico encontrar um pleonasmo e se no mesmo momento pudesse fazer contato com o anacoluto. Um sonho! O  tempo passou, e as esqueci  até que um dia esbarrei com o inusitado. Eu, um quase adolescente diante do inusitado! Diferente das outras palavras, essa era intrigante. O que seria inusitado? Observei que  me olhavam com admiração, quando eu a pronunciava. Percebi que se tratava de algo que envolvia  um grupo seleto de pessoas. Foram semanas convivendo com o inusitado, mas gradativamente, fui perdendo o interesse e mais uma vez busquei novos rumos. Certo momento, fiquei frente a frente com o claustrofóbico. Impressionante! Alucinante! Pensei em me tornar um adepto dessa estranha palavra, viver num claustro,  adquirir uma fobia e me transformar num claustrofóbico. Seria a realização de um sonho! Teria respeito da sociedade. Todos me fariam reverência. Vejam, chegou o claustrofóbico! Que palavra especial. Porém, aos dezoito anos, mudei meu foco e me aproximei dos tentáculos. Passei a ficar horas a fio imaginando-me cheio de tentáculos. Provavelmente seria confundido com um marciano. Minha foto sairia nos jornais me garantindo o sucesso. E assim de palavra em palavra fui vivendo num mundo de aventuras. O professor de ciências me presenteou com o artrópode. Quando ouvi tal expressão, meu coração bateu forte, quase sufoquei: artrópode. A força da sílaba “tró” é inebriante. Andava pelos corredores do colégio pensando em viver como um deles. Habitar o seu mundo seria divino. Mas, um novo encontro mudou meu destino. Outro mestre, outra aula e lá estava o icosaedro. Um desafio! Na lousa a palavra gritava aos meus olhos: decifra-me! Uma sensação estranha tomou conta de mim. Estava, pela primeira vez, sendo levado a buscar uma solução. O que poderia ser aquilo? Na minha timidez, não solicitei ao matemático a explicação. E vaguei dias a dias com aquela dúvida. Até que, ouvindo um noticiário radiofônico o locutor nervoso, durante as informações, bradou: deletério. Naquele momento, como num passe de mágica, encontrei uma nova vontade de viver. Comecei a dançar e a pular, repetindo freneticamente: deletério, deletério. Meus amigos não  entendiam, o porque de tanta euforia. Apenas eu e meu coração sabíamos que um novo amor começava ali. Porém, minhas paixões são efêmeras e logo outras palavras surgiram em meu caminho: ergoterapia chegou aos meus ouvidos pelos lábiosde uma terapeuta. Na filosofia encontrei-me com a “prana”. Um viajante me apresentou a Argóvia. E a medicina tem sido uma inspiração através de seus complexos termos como agerasia, eletrocardiograma e masseter.

Palavras, palavras e palavras! Um mundo mágico e instigante. Com elas ampliamos nossos horizontes, podemos conversar horas e horas, mudando de assunto constantemente. Tornamo-nos, verdadeiros opsômanos em busca de alimento.

Amigos, por favor, não maltratem as palavras, não tirem delas o brilho e vigor. A pressa do mundo moderno, obriga-nos a abreviá-las, e dessa forma, as mutilamos.

Como é bom pronunciá-las, sílaba por sílaba, saboreando cada letra, como nos ensinaram os  queridos professores alfabetizadores.             
Edison Borba

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