Fui
nascido e criado no bairro de Inhaúma, na cidade do Rio de Janeiro. “Naquele”
tempo, criança brincava na rua, pulava corda, soltava pipa, dançava ciranda,
corria no pique esconde e ousava brincar de pera, uva ou maçã.
Não
havia as vacinas que hora salvam muitas vidas. As mães visitavam as amigas
cujos filhos tinham contraído sarampo, rubéola, caxumba ou coqueluche, para que
seu filho “pegasse” o vírus e ficasse imunizado. Era preciso evitar que esses
males acontecessem na idade adulta, principalmente a caxumba, que era um perigo
para os meninos: “ a caxumba, podia descer”, e neste caso o homem ficaria
estéril.
A
medicina da época ainda estava muito longe de servir aos bairros mais distantes
e para suprir esta carência, as mulheres rezadeiras, faziam toda a diferença.
Geralmente
senhoras idosas, que sabiam como curar cobreiro, ventre virado, espinhela
caída, nervo torcido, terçol e outros problemas de saúde que apavoravam as
famílias.
Estas
mulheres também formavam uma equipe de parteiras, que sabiam como cuidar das
parturientes. Os partos eram feitos em casa. Na minha família, os três filhos, incluindo eu, nascemos na
própria cama onde fomos “feitos”.
Normalmente
as curas para as doenças, vinham de
rezas, que eram realizadas com galhos de arruda ou guiné, passados no corpo do doente, pela senhora
rezadeira, que geralmente usava um copo com água e às vezes uma vela acesa.
Era
preciso repetir o ritual por três dias, para não quebrar a corrente. Para
ajudar no tratamento e apressar a cura eram indicados chá de hortelã, erva
doce, carqueja ou de folha de laranjeira.
Havia
casos que outras receitas eram aconselhadas, como: gemada pela manhã e
garrafadas de ervas, para levantar o ânimo do doente e também para salvar
alguns casamentos.
Toda
a minha infância, a dos meus irmãos e
das outras crianças que viveram naqueles anos e sobreviveram às mais
complicadas doenças, em grande parte se deve a ação destas mulheres rezadeiras.
Muitas
de origem africana trouxeram para Brasil o conhecimento de seus ancestrais.
A
todas elas, muito obrigado!
Edison
Borba
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