quarta-feira, 29 de outubro de 2014

VENTRE VIRADO

Fui nascido e criado no bairro de Inhaúma, na cidade do Rio de Janeiro. “Naquele” tempo, criança brincava na rua, pulava corda, soltava pipa, dançava ciranda, corria no pique esconde e ousava brincar de pera, uva ou maçã.
Não havia as vacinas que hora salvam muitas vidas. As mães visitavam as amigas cujos filhos tinham contraído sarampo, rubéola, caxumba ou coqueluche, para que seu filho “pegasse” o vírus e ficasse imunizado. Era preciso evitar que esses males acontecessem na idade adulta, principalmente a caxumba, que era um perigo para os meninos: “ a caxumba, podia descer”, e neste caso o homem ficaria estéril.
A medicina da época ainda estava muito longe de servir aos bairros mais distantes e para suprir esta carência, as mulheres rezadeiras, faziam toda a diferença.
Geralmente senhoras idosas, que sabiam como curar cobreiro, ventre virado, espinhela caída, nervo torcido, terçol e outros problemas de saúde que apavoravam as famílias.
Estas mulheres também formavam uma equipe de parteiras, que sabiam como cuidar das parturientes. Os partos eram feitos em casa. Na minha família,  os três filhos, incluindo eu, nascemos na própria cama onde fomos “feitos”.
Normalmente as curas  para as doenças, vinham de rezas, que eram realizadas com galhos de arruda ou guiné,  passados no corpo do doente, pela senhora rezadeira, que geralmente usava um copo com água e às vezes uma vela acesa.
Era preciso repetir o ritual por três dias, para não quebrar a corrente. Para ajudar no tratamento e apressar a cura eram indicados chá de hortelã, erva doce, carqueja ou de folha de laranjeira.
Havia casos que outras receitas eram aconselhadas, como: gemada pela manhã e garrafadas de ervas, para levantar o ânimo do doente e também para salvar alguns casamentos.
Toda a minha infância,  a dos meus irmãos e das outras crianças que viveram naqueles anos e sobreviveram às mais complicadas doenças, em grande parte se deve a ação destas mulheres rezadeiras.
Muitas de origem africana trouxeram para Brasil o conhecimento de seus ancestrais.
A todas elas,  muito obrigado!
Edison Borba

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