São quatro horas da
manhã, o relógio despertou para o dia 27 de outubro do ano de 2014. Visto a
roupa, coloco na mochila a marmita, preparada por minha mulher, que já pulou da
cama para organizar a casa e mandar as crianças para a escola. O sol ainda não
raiou; sigo para a estação de trens, quando na minha cabeça surge a letra de
uma antiga música de carnaval. A voz que ouço é de uma cantora chamada Marlene,
que repete para mim:
Sai de casa o Zé Marmita
Pendurado na porta do trem
Zé Marmita vai e vem
Após tanto tempo,
acredito que esta música foi escrita para mim. Será que passados mais de
sessenta anos, a vida para os trabalhadores como eu, os conhecidos “Zé Marmita”
continua a mesma? Sei que algumas coisas mudaram desde que essa música foi
cantada; hoje existe o vale transporte, o metro, os ônibus com ar refrigerado,
muitas ruas foram asfaltadas, porém, muitos trabalhadores como eu, continuam
sendo apertados nos vagões dos trens, que atrasam, são desconfortáveis e alguns
são do tempo em que Marlene gravou esta e outras marchinhas de carnaval, como
“Sapato de Pobre é Tamanco”, que se transformou em tênis pirata, comprado nas
bancas de ambulantes. Também sabemos que a figura da mulher carregando lata
d’água na cabeça, foi substituída, pelas mulheres que carregam a família nas
costas. São trabalhadoras, operárias que vivem sozinhas ou então ajudam a
completar a renda do marido. São Marias, que lutam pelo pão de cada dia sonham
com uma vida melhor, apostando nas novas Leis, incluindo a “Maria da Penha”.
Chego à estação
e enquanto espero pelo trem, continuo a lembrar de outras músicas, como “Favela Amarela”, música escrita a partir de
um projeto, que pretendia pintar os barracos das favelas do Rio de Janeiro, de
amarelo. O autor desta música, brincou com a proposta de um político, que teve
a ideia de colorir a miséria. A situação não mudou muito, apesar de algumas
casas serem construídas para o povão e palacetes para os políticos e
empresários que trabalham neste projeto.
Hoje, 27 de
outubro de 2014, um dia após as eleições, eu um Zé Marmita, já estou na rua a
caminho do batente e me pego pensando:
Onde estarão os
políticos para os quais ei dei meu voto?
O que estarão
pensando?
O que estarão
fazendo às quatro horas da manhã?
O trem chega e
felizmente consigo um lugar para sentar e cochilar, até a Central do Brasil,
onde vou descer e enfrentar um ônibus para
chegar ao meu local de trabalho.
Sei que minha
vida pouco irá mudar com os novos políticos, continuarei um Zé qualquer, porém
espero que aqueles para os quais dei meu voto, possam ser éticos e morais, para
que meus filhos sigam um caminho além do Zé e da marmita.
Edison Borba
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