domingo, 25 de dezembro de 2016

O BAFO DO PAPAI NOEL


Uma "historinha" para rir (ou chorar de rir)!

Jurandir levantou as mãos para cima, em um gesto de súplica; mais uma vez ele fora escolhido para ser o Papai Noel da festa que a família de sua mulher organizava para comemorar o Natal.

Desde o casamento com Aurora, que sua sogra o elegeu como o bom velhinho. Agora, passados quase dez anos, ele tentava se livrar desse encargo.

Novos genros foram acrescentados à família, portanto, poderia haver um revezamento. Porém, dona Cotinha, mãe de sua querida esposa, insistia na sua representação natalina. Ele sabia que a nobre senhora, curtia vê-lo suando em bicas, vestindo aquela fantasia de veludo, usando peruca e barba postiças. Havia também as botas, o cinto e as luvas. Era uma forma de vingar-se dele, o primeiro genro, o que casou-se com a sua filha favorita.

Além de vestir a velha roupa vermelha, mofada e roída pelas traças, Jurandir, tinha que aturar as brincadeiras dos convidados. E para finalizar a quente noitada, havia o saco com presentes, que a cada ano ficava mais pesado.

Como se livrar deste doloroso martírio: essa era uma questão que atormentava o Jura.

Mas este ano, o genro sofrido pensou em algo que o livraria definitivamente desta obrigação. Pensou em algo que deixasse todos os convidados chocados e então sua sogrinha o expulsaria da festa, livrando-o do martírio natalino.

Com a cabeça fervendo no óleo da vingança, Jurandir aceitou tranquilamente o pacote com a surrada fantasia de Noel. Como de costume, no dia da festança, sua mulher saiu de casa mais cedo, para colaborar na organização da ceia.  Seu esposo seguiria mais tarde, dirigindo seu possante automóvel, um Passat verde, 1998, com o saco de presentes no banco do carona.

Mesa posta, bebida no gelo, crianças fazendo algazarra, som ligado e galera se esbaldando. Dona Cotinha, correndo de um lado para outro, fiscalizava tudo. Genros, noras, filhos e filhas, sobrinhos, netos, cachorro, periquito, vizinhos, papagaios tudo misturado numa loucura maravilhosa. A sogra do Jura se orgulhava da festa mais animada da comunidade. Sua casa ficava de portas abertas. Era confraternização total. Sendo assim, o saco com os presentes este ano estava mais pesado, pois além da família, havia também o presente para os filhos dos vizinhos.

Relógio marcando as horas. O tique – taque dos ponteiros informando vagarosamente a chegada da meia noite. Amigos, parentes, convidados e penetras cantavam “jingle-bell” na expectativa da chegada do Jura, o Papai Noel. As doze badaladas foram ouvidas, todos emudeceram aguardando a entrada triunfante do bom velhinho. Os minutos foram passando, as crianças começaram a chorar, os adultos a comentar e dona Cotinha a se transformar numa cobra pronta para picar e matar o genro.

A confusão deu lugar à preocupação. Aurora, a esposa, chorava nervosamente. Uma das suas cunhadas, consolava-a, tentando fazer com que entornasse um copo de vinho tinto, tirado do garrafão. Geladinho!

Após, quase uma hora de espera, um convidado, que ainda estava lúcido propôs saírem à procura do “Jura”, que “felizmente” para ele, havia sido apanhado numa blitz da Lei Seca, sendo recolhido ao xadrez pelo alto teor etílico em seu sangue, dirigir embriagado e desacato às autoridades.

Jurandir passou dois dias na cadeia, distribuindo os presentes entres seus companheiros de cela, feliz e longe da sogra. Seu plano saiu melhor do que ele havia imaginado.

Dona Cotinha foi encontrada no telhado, tentando entrar na chaminé. Atualmente encontra-se numa casa de repouso, Lar Noite Feliz.

EDISON BORBA

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